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A sala de tevê está ficando vazia e o motivo não é a qualidade da programação. Se antes a família se reunia para assistir à novela do horário nobre ou à atração de domingo, agora é cada vez maior o número de pessoas que veem o seu programa favorito no aparelho mais próximo das mãos: celular, laptop, tablet ou até GPS. E isso não se limita apenas à grade da tevê aberta. Com o impacto das novas mídias, toda uma produção está sendo feita especialmente para essas plataformas digitais. Nada a ver com os vídeos caseiros veiculados nos primórdios do YouTube, portal que soma 40 milhões de usuários só no Brasil e, hoje, abriga diversos canais com mais de um milhão de visitantes. O Netflix, serviço digital que se lançou como provedor de vídeos on demand (locação de filmes online), é um dos que apostam pesado na criação de conteúdo exclusivo para o novo formato, como a websérie “House of Cards”, considerada a primeira superprodução para a internet (custou US$ 100 milhões). Estrelado por Kevin Spacey e dirigido por David Fincher, o programa de 13 episódios está disponível em 40 países. Essa mudança já se reflete na produção nacional. O portal Terra, por exemplo, veicula com sucesso as séries “Onda Zero” e “ApocalipZe”, premiadas pelo LA Webfest, em Los Angeles. “O modo de ver televisão está mudando”, afirma Paulo Gregoraci, vice-diretor operacional da agência WMcCann. E, pelo ritmo, não será mais o mesmo.

A exemplo dos criadores do programa de humor “Parafernalha”, abrigado pelo YouTube e que tem equipe e estúdio próprios, o comediante carioca Felipe Neto contabiliza milhões de acessos no mais popular portal de vídeos. É mais um dos que investem no público que prefere a mobilidade dos gadgets digitais à tela tradicional.

“Ao escolher entre a tevê e a internet, fiquei com a internet, por acreditar que era o futuro. Mas vejo que já é o presente”, diz Neto, que abriu mão de um quadro no “Esporte Espetacular”, da Rede Globo, para produzir exclusivamente para a rede. Sua estrutura não é amadora: reúne 35 pessoas.

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Rompendo o clichê de que a web é o paraíso da piada fácil, em Belo Horizonte, a produtora Cinemarketing, do diretor Guto Aeraphe, apostou na ficção científica com o seriado “ApocalipZe”, que será exibido em Marselha (França), em outubro, junto com “Onda Zero”, de Flávio Langoni. “Nossos custos ainda são baixos, entre R$ 25 mil e R$ 30 mil por episódio. Mas em pouco tempo teremos uma sofisticação parecida com a da televisão”, afirma Aeraphe.

O diretor mineiro negocia a exibição de seu programa no Netflix, onde as produções online ganham espaço. Contudo, outros serviços digitais de streaming (podem ser vistos, mas não “baixados”) estão no ar, como o Now, o Telecine Play, o HBO Go, o Crackle e o Muu, da Globosat, que disponibilizou a série “Extras”, estrelada por Ben Stiller e Kate Winslet. Apesar do alto investimento em conteúdo, a predominância, especialmente tratando-se de quadros de humor, é de vídeos curtos, entre 10 e 15 minutos. Isso facilita a exibição nas telas pequenas de celulares e tablets. A estudante carioca Paula de Castro Andrade, 24 anos, por exemplo, vê comédias feitas para a internet no seu iPad, deitada na cama antes de dormir. “Ganho tempo não assistindo aos intervalos.” Essa mudança de hábitos já é uma realidade. O niteroiense Ary Reis, 27 anos, fez assinatura do portal da Globo para assistir à programação da emissora no celular na hora que quiser. “Prefiro assistir aos programas enquanto almoço.” Na casa do estudante de engenharia carioca Alexandre Schettini, 23 anos, a tela da tevê pode virar monitor do computador quando ele quer ver uma série que baixou da rede. “Só uso o aparelho de televisão eventualmente”, afirma.

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Para fazer frente à concorrência, as emissoras abertas pretendem se beneficiar com a entrada nos lares brasileiros das tevês de alta definição com acesso à internet. A expectativa no mercado é de 60% no aumento de vendas este ano, mas a ideia é um casamento das mídias e não uma guerra. A Globo, que tem 4,5 milhões de seguidores no Twitter e um milhão no Facebook, acaba de lançar o aplicativo de celular “com_vc”, para o público comentar nas redes sociais. A mania do compartilhamento, aliás, é o outro lado da revolução, e não se trata de ficção científica imaginar que, num futuro próximo, vai existir uma uma nova televisão feita pelo próprio internauta – só que assistida apenas por seus amigos.

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