O jacarandá-da-baía é a madeira mais cobiçada por fabricantes de guitarras e violões ao redor do mundo, por causa de suas propriedades acústicas e beleza visual. No entanto, após décadas de exploração, as fontes de madeiras raras como essa são cada vez mais escassas. Isso fez com que a indústria da música colocasse a mão na consciência e buscasse alternativas por meio de uma extração menos agressiva e da pesquisa de novos materiais.

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Guitarra do mexicano Carlos Santana tem madeira brasileira

A mais recente ação do tipo veio da americana Paul Reed Smith (PRS), que faz os instrumentos de músicos como o mexicano Carlos Santana. Desde o início do ano, a empresa participa de um projeto de reflorestamento de Mata Atlântica no sul da Bahia. O Corredor Ecológico Monte Pascoal – Pau Brasil vai replantar espécies nativas da região, como o próprio jacarandá, cuja exploração na natureza está proibida, em uma área de cerca de 1.000 hectares. O objetivo é ligar os parques nacionais de Monte Pascoal e Pau Brasil por meio de uma faixa de floresta. “Quando se conectam duas áreas, as espécies se combinam e isso garante que sobrevivam por mais tempo”, explica Ricardo Guedes, coordenador do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), uma das entidades por trás da iniciativa. “O jacarandá sempre foi muito valorizado na nossa indústria, então é mais do que correto apoiar um projeto como esse”, diz Judith Schaefer, gerente de mercado da PRS.

Mas a fonte mais sustentável de matéria-prima para guitarras não está nas florestas, e sim na reciclagem. O prestigiado luthier brasileiro Márcio Zaganin conta que recuperou centenas de peças de madeira que seriam jogadas no lixo após uma reforma na Câmara Municipal de São Paulo. “Era um material de excelente qualidade que estava simplesmente jogado em frente ao prédio”, diz. Zaganin explica que toda madeira brasileira precisa receber a chamada certificação DOF (Documento de Origem Fiscal), que garante a legalidade da extração. No Exterior, fabricantes como Gibson, Fender e a própria PRS cada vez mais priorizam o uso de madeira certificada. Hoje, mais da metade da matéria-prima vem de fontes consideradas sustentáveis.

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Esse esforço não impede que haja problemas. Em 2011, agentes federais invadiram uma das fábricas da Gibson nos EUA e apreenderam quase US$ 300 mil em madeiras exóticas extraídas ilegalmente na Ásia. Para evitar transtornos parecidos, outras empresas pesquisam e já adotam materiais alternativos, como fibra de carbono, bambu e até plástico reciclado (confira quadro ao lado). Com iniciativas como essa, a indústria dos instrumentos musicais espera estar cada vez mais afinada com a preservação da natureza.