Além dos meteoritos caídos na Terra, as únicas amostras de material espacial manuseadas pelo homem são as rochas trazidas da Lua no Projeto Apollo. Isso vai mudar. No sábado 6, a Nasa lança a sonda Stardust (pó de estrelas), que irá atrás do cometa Wild-2. Em 2004, passará raspando por seu núcleo para colher partículas dele ejetadas. Feito isso, garimpará pó interestelar e voltará à Terra em 2006. As partículas serão então investigadas para determinar sua composição e tentar responder questões cruciais ligadas à origem da vida.

Cometas são astros que orbitam entre o Sol e os confins do sistema solar. Acredita-se que sejam feitos de gelo e poeira, no meio da qual podem existir compostos de carbono, elemento base da vida na Terra. Ao se aproximar do Sol, o núcleo de um cometa derrete, expelindo partículas na forma de enorme cabeleira. Um planeta que a cruze será bombardeado por seu pó. "Ninguém sabe como a vida começou, mas suspeita-se que os cometas têm papel importante nisso", diz o chefe da missão, o astrônomo Donald Brownlee, da Universidade de Washington. Se forem achadas moléculas de carbono no Wild-2, a teoria de que os cometas semeiam a vida no cosmo ganhará impulso. Mas a Stardust reserva outras surpresas. Um objetivo secundário, porém não menos importante, é estudar o pó interestelar, resquício do barro que modelou o sistema solar há 4,6 bilhões de anos. Analisá-lo é descobrir onde foi produzido antes que a Terra existisse.

Se dependesse das boas intenções da Nasa, a Stardust seria um sucesso. Mas não existe certeza nenhuma de que a missão saia ilesa de seu contato com o Wild-2. Ela pode virar pó ou ficar perfurada como um escorredor de macarrão. A melhor tecnologia aeroespacial não garante a integridade da nave de US$ 165,6 milhões jogada contra uma chuva de bilhões de partículas menores que grãos de areia, porém rasgando o vácuo a 6,1 quilômetros por segundo, dez vezes mais rápido que uma bala. Para reduzir o risco, a sonda será coberta por um escudo antichoque. Fora isso, só restará aos controladores de vôo rezar.

A captura do pó de cometa será engenhosa. Numa plataforma com cara de raquete de tênis há coletores que lembram fôrmas de gelo e funcionam como papel pega-moscas. São 260 caixinhas cheias de uma espuma de vidro chamada aerogel. Formada por 99,8% de ar, ela é tão leve que pode ser suspensa pela chama de um maçarico. É tão densa que freará instantaneamente os milhões de partículas do Wild-2. E tão isolante que confinará as temperaturas de até dez mil graus produzidas por cada impacto, impedindo que a nave se derreta.