Os tempos de gastança em Miami, Paris ou Nova York estão definitivamente adiados com a desvalorização do real frente ao dólar. Apesar de as agências de turismo fazerem e refazerem contas e estratégias de venda de pacotes, o certo é que a sangria de US$ 4 bilhões em viagens para fora do País em 1998 não se repetirá neste ano. Tudo está mais caro lá fora e somente a American Airlines já registrou uma queda de 10% nas consultas para reservas de passagens. A tendência agora é mudar o fluxo de turistas. Esse é um dos trunfos da desastrada desvalorização da moeda, já que os estrangeiros devem gastar bem mais que os US$ 2,8 bilhões do ano passado e novas divisas entrarão no Banco Central (BC). A mudança drástica nos rumos do turismo, no entanto, tem deixado muita gente preocupada. "Se a crise cambial não se agravar, acredito que as agências demitirão em torno de 30% do pessoal", prevê o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens do Rio (Abav), Luís Bonilha. Isso porque os pacotes domésticos, mais baratos que os internacionais, renderão menos às empresas do ramo. Além disso, muitos brasileiros simplesmente vão ficar em casa para economizar.

O Carnaval promete ser o último suspiro de quem viajou muito no Exterior na época do real valorizado. Muita gente não conseguiu suspender os pacotes comprados antes de o dólar flutuar livremente e terá de amargar os reajustes das prestações. O casal Milton e Maria Faria, de São Paulo, foi um dos poucos que conseguiram se safar. Eles tinham adquirido pela Stella Barros um pacote de US$ 3,4 mil para dez dias em Nova York, quando o câmbio ainda estava em R$ 1,25. Com a disparada da moeda americana, mudaram de destino. "Havíamos pago somente a primeira das quatro parcelas de US$ 620 e a agência concordou em trocar o pacote. Agora vamos para Fortaleza por R$ 1,8 mil", explica Faria, que é consultor de empresas. Sua mulher não conhece o Ceará, mas ele ressalta que a decisão faz parte de uma estratégia de corte geral nas despesas para fazer frente à recessão. "Na mudança, economizei até em roupas de inverno", brinca. A Stella Barros tem cerca de 95% de seus pacotes voltados para o Exterior. A empresa cancelou cinco promoções para o Carnaval e prevê que a retração nos negócios virá mesmo a partir da Semana Santa. "Estamos com 200 pacotes vendidos, contra os 400 que tínhamos nesta mesma época em 1998", lamenta o diretor Fernando Guinato.

A salvação para as agências e companhias aéreas passa necessariamente em um reforço nos pacotes nacionais e nos negócios com turistas estrangeiros. Com 58 vôos regulares semanais de Buenos Aires para o Brasil, a Varig tem registrado uma forte procura de viagens fretadas para Florianópolis, Cabo Frio e Porto Seguro. De janeiro a março, 367 vôos charter de várias companhias provenientes da Argentina já foram autorizados pela Aeronáutica, contra os 407 de todo o ano passado. A tendência é que esse movimento continue intenso. "Primeiro vêm os argentinos, depois os americanos e europeus", declara Luiz Mor, diretor-comercial da Varig. A Agaxtur é uma das agências que têm conseguido se adaptar à reviravolta do mercado. "Já vendemos R$ 700 mil em pacotes nacionais para fevereiro, 40% a mais que os R$ 500 mil do mesmo período do ano passado", declara Aldo Leone Filho, diretor da empresa. Mas a agência também tem um problema a resolver. Com uma boa base de negócios em Buenos Aires e Santiago, ela lança em breve pacotes com preços fixos em reais para garantir a viagem aos países vizinhos da clientela brasileira. Para tanto, tratou de negociar descontos com os fornecedores argentinos e chilenos.

Colaborou Liana Melo (RJ)

 

Feliz câmbio novo

 

MARIA FERNANDA DELMAS

O Ano-Novo se tornou um pesadelo. Quem passou a virada para 1999 no Exterior, com o dólar a R$ 1,21 e a promessa do governo de não mexer no câmbio, aguarda com nervosismo a fatídica fatura do cartão de crédito. O câmbio que vale é o do dia do pagamento. O Credicard informa que compra o dólar no dia em que o cliente paga a fatura e repassa a taxa. Na sexta-feira 29, quando o câmbio bateu em R$ 2,15, a empresa tinha conseguido dólar por R$ 2,02. Mas, se for preciso comprar duas vezes no dia, o consumidor vai arcar com a maior taxa. A American Express adota a taxa de fechamento do dia. Se comprou dólar por preço mais alto, absorve a despesa. Se comprou abaixo do fechamento, é o cliente quem perde. Por norma do BC, as despesas efetuadas no Exterior não podem ser parceladas. Se não puder pagar no vencimento, o consumidor tem um tempo para negociar com a empresa e depois vira inadimplente – carregando o peso de multas e juros sobre o atraso. "Naquela sexta-feira dos R$ 2,15, ninguém podia falar comigo de tanto nervoso. Imagina dobrar a dívida?", conta a consultora de recursos humanos Regina Célia Dias, que passou o Ano-Novo com a filha em Punta del Este. Ela comprou o pacote no Brasil em duas vezes, em dólar e não pôde conter os gastos nos passeios e no Free Shop. Em fevereiro, tem de pagar US$ 1,5 mil e, em março, US$ 1 mil. Vale lembrar que quem não acredita tanto na tese de que o câmbio vai ceder tem a opção de antecipar o pagamento. Mas a diretora de atendimento do Procon em São Paulo, Maria Lumena Sampaio, alerta: "Há denúncias de abusos das operadoras, que mesmo recebendo o pagamento antecipado cobram a diferença do câmbio do dia oficial de vencimento. O que vale é o câmbio do dia de pagamento, sempre."