Com vídeos, mostramos como o cinema e a música ajudaram na construção da imagem dessa precursora dos pop stars:

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Era portuguesa a mulher que foi pioneira na divulgação da música brasileira nos EUA – nossa “embaixadora musical”, digamos assim, bem antes de João Gilberto e Tom Jobim pisarem com a bossa nova o Carnegie Hall. A sua voz, admita-se, não era das mais privilegiadas, mas quem estaria interessado somente pela voz quando tinha diante de si o carisma, a originalidade, a sensualidade e os trejeitos da eletrizante Carmen Miranda? Ela arrasava e escandalizava e encantava, e com certeza foi a portuguesa mais baiana de que se tem notícia.

O que se descobre agora é que Carmen foi também a grande pioneira no marketing pessoal, com visão empresarial mesmo, espécie de Lady Gaga do passado, ligando o seu nome à promoção e venda de produtos, enquanto nos palcos mandava ver o seu “o tico-tico cá, o tico-tico lá, está comendo todo-todo o meu fubá…” Essa é a originalidade da tese da pesquisadora inglesa Lisa Shaw, da Universidade de Liverpool, no livro “Carmen Miranda”. Há uma passagem marcante: “Banana is my business” é a insistente fala de Carmen no filme “Romance Carioca” que ela estrelou em 1950 em Hollywood.

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POPULARIDADE
Carmen Miranda comemorou em Hollywood a rendição
do Japão em 1945: pegou bem para a sua imagem

“A cantora se tornou uma franquia que resiste como poderosa ferramenta de marketing”, escreve a autora. De forma consciente e treinada, ela criou e explorou a figura tropical exótica. Carmen era tão boa nisso que, segundo Lisa, até hoje o seu nome é citado em publicidade de “iogurte da Danone na França, carros na Inglaterra, passando por preservativos em Portugal”. Em 2011, a imagem dela serviu para uma propaganda da Brastemp – todos os direitos continuam sendo de sua família, isso até 2025, quando passará a domínio público.

Quando a cultura pop ainda engatinhava com a expansão do cinema e o início da televisão, quando Madonna e Lady Gaga ainda frequentavam outro planeta que não o nosso, Carmen criou a sua “persona” mercadológica. E foi astuta ao perceber o seu potencial: valeu-se de estereótipos do imaginário americano e tornou-se marqueteira de si própria a ponto de em 1943 o seu salário em Hollywood superar o de Judy Garland e Katha­rine Hepburn.

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GÊMEAS NA AUTOPROMOÇÃO
Lady Gaga eletriza como Carmen Miranda eletrizou. Lady Gaga
pensa em negócios como Carmen Miranda pensou

Se é verdade, como escreveu o saudoso compositor Billy Blanco, que camelô na conversa vende até algodão por veludo, também é certo que marqueteiro que é marqueteiro traz isso impresso no DNA. Carmen, por exemplo, começou a sua carreira de vendedora ainda no Brasil, lá por volta de 1930, anunciando recatadamente o pós-banho Leite de Rosas. Pueril demais para a fera na qual se transformaria nos EUA, onde até o figurino extravagante viraria moeda corrente no mercado publicitário e a estratégia de vendas incluiria fotos em capas de revistas e entrevistas nas quais ela aparecia usando os produtos e balangandãs que criava. Dos turbantes vieram contratos com lojas de departamento famosas demais como a Bonwit Teller e a Macy’s, que até hoje se vale da marca Carmen Miranda. Nos anos 1940, ela anunciou um aparelho de rádio GE. Se vivesse atualmente, seu apenas 1,63 m de altura não daria conta de tanto penduricalho que teria de pregar em seu corpo para propagandeá-los. Por esse tino para os negócios, ninguém acertou mais que o radialista César Ladeira quando a apelidou de “A Pequena Notável”. Quem mordeu-se de ciúme foi Aurora Miranda, irmã de Carmen. Claro: ela, Aurora, era a namorada do marqueteiro que criou o apelido.

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Fotos: Bettmann/CORBIS; Divulgação


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