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APESAR DE VOCÊ
A despeito dos movimentos equivocados de Serra, Aécio Neves se consolida
cada vez mais como o principal nome do PSDB para concorrer ao Planalto

Ao comentar sobre o temperamento do tucano José Serra, o então presidente da República Fernando Henrique Cardoso cunhou a seguinte definição: “O problema do Serra é o diabinho existente dentro dele.” Nos últimos dias, o diabinho que habita em Serra se manifestou na forma de um dos sete pecados capitais: a inveja. Com poucas perspectivas políticas, após a derrota à prefeitura da capital paulista, e enciumado com a consolidação eleitoral de outro nome no PSDB que não o dele, o ex-governador de São Paulo voltou à cena para, mais uma vez, tentar fazer prevalecer suas vontades – para não dizer delírios. Não se tratou de algo inédito – Serra é useiro e vezeiro em colocar os interesses pessoais acima dos coletivos –, mas, desta vez, a ousadia alcançou seu ápice.

Na tarde da sexta-feira 15, Serra recebeu em sua residência na capital paulista o presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos. O encontro durou quase quatro horas – das 16h às 19h30 – e só foi habilmente revelado uma semana depois. Como já é notório, Campos trabalha nos bastidores para se viabilizar como candidato ao Planalto em 2014. Caso oficialize sua candidatura, certamente estará numa trincheira oposta ao do partido de Serra, o PSDB. “A candidatura de Eduardo Campos é boa para a política e para o Brasil”, comentou Serra ao longo da semana. A recepção de Serra a Campos, no momento em que o senador tucano Aécio Neves (MG) começa a pavimentar sua candidatura, não faria o menor sentido não fossem as ameaças entabuladas por Serra nos dias que sucederiam ao encontro. No sábado 16, Serra fez chegar, por meio de aliados, um recado à cúpula da sigla: não aceitaria a ascensão do senador Aécio Neves à presidência do PSDB. “Eu é que devo assumir o PSDB. Aécio é um coronel”, acusou. Foi ainda mais longe ao ameaçar estar no palanque oposto em 2014 como candidato de outra sigla, o PPS, ou quem sabe até ao lado de Eduardo Campos (PSB), aquele com quem se reunira um dia antes em sua residência, caso tivesse a sua pretensão de ocupar o comando da legenda negada. Ao fim da semana, o jogo de cena de Serra ficou evidente. No meio político, a conclusão foi de que Campos acabou sendo usado pelo ex-governador de São Paulo em sua tentativa de ganhar musculatura política na disputa interna do PSDB. A articulação, porém, não gerou o efeito acalentado por Serra. No ninho tucano a convicção, agora, é de que, se Serra já detinha poucos aliados, seus movimentos recentes o isolaram ainda mais. “Essa estratégia desagregadora do Serra de fazer valer seus interesses já cansou até aqueles que sempre foram fiéis a ele”, desabafou à ISTOÉ um dirigente tucano.

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O EQUILIBRISTA
O presidenciável do PSB Eduardo Campos tenta se equilibrar entre
estar no governo e ser oposição a Dilma. Não tem sido fácil

A escolha para o cargo de presidente do PSDB será definida na Convenção Nacional do partido, em maio. Como, ao contrário de Serra, Aécio demonstra entender que na política é muito mais importante somar do que dividir, na noite da segunda-feira 18 o senador mineiro visitou o escritório do ex-governador de São Paulo em busca de um entendimento. Segundo fontes ouvidas por ISTOÉ, em um dos seus raros momentos de franqueza, Serra reclamou do isolamento e da falta de espaço vivida dentro do PSDB. Aécio, então, pediu que ele refletisse sobre qual papel desejaria ocupar na estrutura da legenda. Aproveitou, no entanto, para reforçar aquilo que já é considerado pule de dez no PSDB: a vaga de presidente nacional da legenda não está em discussão, pois a maioria do partido já se decidiu pelo nome de Aécio. A informação havia sido repassada pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, a Serra no fim de semana. Para dirigentes da PSDB, o desejo alimentado por Serra de assumir o comando do partido seria, no mínimo, estapafúrdio, por jogar frontalmente contra o projeto dos tucanos para 2014. “Serra é um quadro com um histórico respeitado e um patrimônio eleitoral, mas não pode conduzir o PSDB”, disse um cardeal tucano. “Ele representa exatamente o oposto do caminho de oxigenação e pacificação interna que estamos trilhando”, complementou a mesma fonte.

Na estratégia traçada por lideranças históricas do PSDB, como o ex-presidente Fernando Henrique, a eleição de Aécio Neves ao comando do partido na Convenção Nacional é parte essencial do projeto tucano de derrotar o PT na eleição ao Palácio do Planalto em 2014. O raciocínio é pragmático. Elevado ao comando da principal sigla de oposição, o senador mineiro tende a ganhar ainda mais legitimidade para colocar de vez sua campanha nas ruas. Na última semana, a revista britânica “The Economist” reconheceu a força da provável candidatura de Aécio à Presidência da República. Sob o título “O remédio de Minas”, a publicação diz que Aécio executou um choque de gestão em Minas Gerais, o que o credenciaria para postular o Planalto. “Graças a esse sucesso em Minas, mr. Neves está perto de se tornar o candidato do PSDB na eleição presidencial do próximo ano. Uma dose do remédio de Minas, ou seja, gastar menos no governo e mais nos cidadãos, pode fazer bem ao Brasil”, diz o texto.

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Na contramão do PSDB, os interlocutores de José Serra buscam fazer da eleição de Aécio Neves para o comando da legenda uma disputa entre os diretórios de Minas Gerais e São Paulo. Acusam, nos bastidores, os mineiros de querer controlar o partido e tentar provocar o embate entre o grupo do senador Aécio Neves e o do governador paulista, Geraldo Alckmin. A tentativa de intrigar Alckmin com Aécio é inócua. O mineiro e o paulista marcham no mesmo compasso. Na terça-feira 19, Aécio e Alckmin também tiveram uma conversa reservada. Apesar das declarações lacônicas do governador à imprensa depois do encontro, lá dentro ficou acertado o seu embarque à candidatura do senador mineiro ao comando da legenda e à Presidência da República. Segundo dirigentes do PSDB ouvidos por ISTOÉ, Alckmin já havia selado o apoio à candidatura de Aécio Neves durante um encontro na casa do ex-presidente FHC em outubro. A conversa foi testemunhada pelos tucanos Tasso Jereissati e Sérgio Guerra, atual presidente do PSDB. Em outra demonstração de absoluta sintonia, Aécio e Alckmin patrocinaram no início do ano os nomes de dois parlamentares paulistas para as lideranças da sigla na Câmara e no Senado, Carlos Sampaio e Aloysio Nunes Ferreira, respectivamente.

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As atitudes desmedidas de Serra derivam de seu mais recente infortúnio eleitoral. Em reuniões nas últimas semanas, José Serra tem passado a impressão de que ainda não absorveu a derrota à Prefeitura de São Paulo. Políticos próximos a ele descrevem um Serra “perdido”, “como se estivesse tentando se reerguer, mas não sabe como”. Normalmente, políticos costumam fazer movimentos dignos de pena quando estão próximos do ostracismo. O presidente do PPS, Roberto Freire, enquadra-se no perfil. Sua tentativa de se aproximar de Eduardo Campos não passa de uma articulação desesperada de quem precisa lançar mão de qualquer artifício para não ser esquecido. Pelo visto, ao persistirem com suas teimosias, Freire e Serra terão o mesmo destino: o ocaso político. 


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