UNHEIMLICH/ESTRANHAMENTE FAMILIAR/ Instituto Tomie Ohtake, SP/ até 18/4

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CONTRASTE
Em "Flautista", luz e brilho de foto são alterados de acordo com a música

Descobrir a razão daquilo que figura diante do olhar como estranho foi o objetivo de Sigmund Freud ao escrever o texto “Unheimilch”, em 1919. Assim como a palavra saudade, que somente aos falantes da língua lusitana cabe seu completo entendimento, o termo “Unheimlich” não possui tradução exata e para nós se aproxima da paradoxal expressão “estranhamente familiar”. Mas como algo estranho, absurdo e principalmente alienígena – que aparentemente está fora do ser ou de sua esfera habitual – pode ser ao mesmo tempo familiar? Uma das explicações para o conceito, segundo Freud, é que muitas vezes os encontros que temos com um fato dito “estranho” se relacionam aos nossos próprios cenários íntimos soterrados pelo inconsciente ou por processos traumáticos.

O texto de Freud sempre influenciou profundamente o campo das artes. Desde o surrealismo, o conceito ganha desdobramentos e hoje é tema da exposição “Unheimlich/Estranhamente Familiar”, que apresenta quatro jovens artistas brasileiros que vêm ganhando notoriedade no circuito atual. “Este é um tema recorrente na arte contemporânea e escolhemos artistas cuja produção vai ao encontro do conceito proposto por Freud”, explica Paulo Miyada curador da exposição.

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ESTRANHAMENTO
Em "Anima", o artista Thiago Honório reveste uma
caixa transparente com a pele de uma zebra

A prática dada-surrealista dos objet-trouvé – objetos encontrados ao acaso e expostos como obra de arte – aparece nos estojos coletados ao redor do mundo por Thiago Honório. Em sua instalação denominada “Prêt-à-Porter”, as caixas aveludadas e vazias estão dispostas lado a lado, parafusadas umas às outras. Estranhas também são as máquinas criadas pela artista Mariana Manhães que na instalação “Então” faz uma espécie de sistema respiratório sem corpo, no qual diferentes sacos plásticos são inflados ocasionalmente por ventoinhas automatizadas. Já na obra “O Flautista”, a carioca Alice Miceli se apropria do conto escrito pelos Irmãos Grimm “O Flautista de Hamelin”, e, a partir de uma imagem de crianças caminhando, cria uma narrativa perturbadora na medida em que o brilho e contraste da foto são alterados de acordo com o ritmo de uma música.

“Os processos de automação das obras são algo que se instaura como metáfora para os processos do inconsciente”, comenta Miyada. Completa a exposição “Órbita Espiral”, de Rodrigo Matheus, instalação composta de uma espiral feita de pedras colocadas no chão e cercada pela projeção de uma esfera móvel nas paredes que transformam a última sala da exposição em um diorama mental, propício para a apreciação de paisagens íntimas.