Uma das primeiras coisas que aprendi quando comecei a ancorar telejornais é que precisava conter meus gestos. Como repórter de rua, podia caminhar, apontar, me inserir naquele contexto. Na bancada, meus movimentos estariam para sempre limitados à moldura da telinha. Mas vá segurar uma mulher…

Adestrei a amplitude dos braços, mas nunca limitei o desejo de abraçar o mundo. É o que nós fazemos, as mulheres. Uma infinidade de coisas, todas ao mesmo tempo. E de cada uma delas é preciso extrair felicidade. E em todas é preciso depositar honestidade.

Ancorei. Mas minha agenda de interesses continuou navegando pelos mais diversos temas. Como jornalista, contei muitas histórias de mulheres e para mulheres.

A das poliândricas do norte da Índia, a das guerrilheiras da Colômbia, a das vítimas das guerras na África, a das sombras cobertas por burcas no Afeganistão. Tornei-me uma aplicada estudiosa do universo feminino. Uma ávida espectadora da vida de toda mulher. E, em especial, a das batalhadoras do Brasil, as que decidem, as que se educam, as que trabalham. E que fazem tudo isso sem ter dúvida alguma de que são mulheres.

O mundo de hoje é muito feminino. E profundamente injusto com a mulher. Setenta por cento da miséria do mundo é feminina. Que poder poderia mudar estatísticas assim? Um poder com mais vozes de mulher. Apesar dos avanços, contudo, não me parece que estejamos próximos disso.

Nos últimos anos, em paralelo ao meu trabalho como âncora em telejornais, abri duas empresas. Uma delas especificamente para a comunicação com as mulheres. Nosso portal, o www.tempodemulher.com.br, tem hoje média de 25 milhões de acessos por mês. Nossos eventos para mulheres levam centenas delas aos auditórios onde se realizam. Nossas pesquisas contam muito sobre as tendências de comportamento e consumo da nova mulher brasileira.

Há uma complexidade incrível nessa agenda. Ser mulher, ser ativa, ser a responsável pelo próprio destino. E ser doce, ser compreensiva, ser mãe. Para que isso funcione, é preciso descomplicar. Estou descomplicando. Estou levantando âncora.

Decidi não renovar meu contrato para apresentar o “Jornal da Record”, posição que ocupei nos últimos quatro anos ao lado do mais generoso dos companheiros, o jornalista Celso Freitas, para me dedicar integralmente às minhas empresas.
O que não significa que estou dizendo adeus à tevê. Talvez um até logo!

E se uso o nobre espaço desta coluna para dizer isso é para honrar outra coisa importante que aprendi no jornalismo de televisão. Ser honesta com quem me vê todos os dias. Posso não conhecê-los pessoalmente, mas são todos meus amigos, acompanham minha carreira, sabem quando aparento cansaço, quando estou aflita, dão palpites na cor do meu esmalte. Como qualquer amigo. Ou amiga.

Pois bem, amigos – e principalmente amigas –, se construí, como vocês me dizem todos os dias, uma imagem de credibilidade nesses 27 anos de jornalismo, neste momento a melhor maneira de usá-la é a favor de uma causa grandiosa para mim: a do empoderamento feminino. A causa da mulher. Não que elas precisem de mim. Mas eu certamente preciso muito delas.

Ana Paula Padrão é jornalista e apresentadora