Além do prêmio de R$ 500 mil, os aventureiros que expõem suas intimidades e flatulências no reality show Big Brother Brasil, da Rede Globo, buscam também outros dividendos da fama instantânea. Para a frentista Solange Couto, a participação na quarta edição do BBB, encerrada há duas semanas, rendeu um estrelato às avessas. Por conta dos seguidos erros de português que cometeu e graças à edição de imagens, Solange – apelidada de Sol – transformou-se numa espécie de símbolo da burrice nacional e ficou famosa por suas gafes. Na sequência, repetida cinco vezes pela emissora, a moça chamou ofurô de “o furúnculo”, disse que era masoquista quando queria dizer narcisista e opinou que um quilo de chumbo pesa mais que um quilo de algodão. Por trás das “piadas” está a paulista de 25 anos, nascida em Mogi-Guaçu, que foi obrigada a abandonar a escola aos 12 para trabalhar, como milhões de brasileiros que também tropeçam no português. Ingênua, entrega-se sorridente às gozações. “O bom é que estou sendo lembrada”, acredita. Solange virou caricatura do humorista Tom Cavalcante e transformou a si mesma em personagem ao aparecer no programa Casseta & Planeta como a mulher de Seu Creyson, figura criada por Cláudio Manoel cuja marca é agredir o vernáculo.

Coordenadora da pós-graduação em comunicação social da UFRJ, a professora Raquel Paiva lamenta o tratamento dado a Solange. “A figura dela deveria despertar tristeza e solidariedade. É nosso lado desdentado que teimamos em não enfrentar. Enquanto tratarmos o problema social como piada, nada se resolve”, analisa. Apesar de repetir que não se incomoda com as constantes menções aos seus erros, Solange inquieta-se quando solicitada a avaliar as piadas de Tom Cavalcante a seu respeito. “Não quero falar sobre isso…” Pouco depois, respira fundo e concede um comentário: “Ele exagerou um pouco, mas os comediantes são assim.” Sobre a atuação do apresentador Pedro Bial, que fez de seus deslizes o assunto preferido em vários programas, a moça é lacônica: “Ele falou o que pensava, o que achava certo.” Nem a própria Solange sabe como pretende se beneficiar da superexposição na tevê. “Espero ser convidada para trabalhar como modelo fotográfico, fazer algum comercial, o que pintar…”, especula. De concreto, ganhou um carro e uma quantia em dinheiro não revelada a ser usada para ajudar parentes que há dois meses perderam tudo numa enchente. Seu sonho é manter acesa a fama para continuar ganhando mais do que o salário recebido como frentista. Mesmo que para isso tenha de se perpetuar no papel de protagonista de uma piada de mau gosto, que a Globo faz questão de explorar.


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