Divulgação

Hope e Giamatti (à esq.) e a revista American Splendor: underground e fama

Cleveland, Ohio, não era exatamente um Woodstock em termos de animação nos anos 1960, principalmente para Harvey Pekar. Arquivista do hospital público, recém-saído do segundo divórcio, ele tinha apenas dois amigos – Tobby, um branquelo de óculos com ambição de ser o rei dos nerds, e o sr. Boats, negro de meia-idade viciado em classificar possíveis desvios mentais dos outros. Para Boats, supervisor do hospital, Tobby não passava de um "limítrofe". Do seu lado, Pekar tinha uma paixão inclassificável. Amava discos antigos, vasculhados em sebos empoeirados. Num deles conheceu Robert Crumb, o futuro cartunista underground, então vendedor de cartões de felicitações. O último herói americano (American Splendor, Estados Unidos, 2003), em cartaz em São Paulo e no Rio de Janeiro na sexta-feira 23, é um misto de filme de ficção e documentário dirigido pelo casal Shari Springer Berman e Robert Pulcini que procura – e consegue – captar quem é Harvey Pekar. No segundo encontro com Pekar, Crumb, tornado ídolo da moçada-cabeça da Califórnia, aconselha o funcionário público a escrever histórias em quadrinhos. Como é incapaz de traçar duas paralelas, o próprio cartunista desenha as primeiras tiras e convoca outros profissionais para editar visualmente os roteiros minuciosos de Pekar. Batizada American Splendor, a revista chegou às bancas em 1976. Fez tanto sucesso que levou Pekar a casar-se pela terceira vez – com Joyce Brabner, que passou de fã a mentora -, transformou-o em atração fixa do programa de David Letterman, e catapultou Tobby de "bobão" a VJ da MTV. O que Shari e Pulcini fizeram foi filmar literalmente Our cancer year, número especial da revista em que o herói descobre que tem um câncer na garganta – a fonte era perfeitamente confiável, já que foi Pekar quem a escreveu. Paul Giamatti faz Pekar, em seu primeiro papel como protagonista. Hope Davis personifica Joyce e Judah Friedlander, Tobby. Exceto Crumb, todos os personagens reais aparecem contracenando com os atores que os representam, o que confere modernidade ao trabalho.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias