Como se não fossem suficientemente eloquentes, as cenas de guerra na Rocinha vieram acompanhadas dos assustadores números contidos na Síntese de Indicadores Sociais do IBGE. Enquanto as balas faziam vítimas na favela, a pesquisa vinha a público e contabilizava o que os moradores do Rio de Janeiro sentiam nos nervos e na carne. Em duas décadas, de 1980 a 2000, mais de meio milhão de brasileiros foram assassinados. Números dignos de guerra civil. Em Angola, por exemplo, o conflito que durou 27 anos, de 1975 a 2002, produziu 350 mil mortos, bem menos que as 598.367 vítimas da violência no Brasil. Na Rocinha, a guerra travou-se dentro do chamado Estado paralelo, entre quadrilhas de traficantes de drogas, até a intervenção das forças do Estado, aquele legitimamente constituído. O rei posto, no caso morto pela polícia, era o traficante Lulu, Luciano Barbosa da Silva, que era mais querido que temido pela comunidade. Com um faturamento semanal de R$ 8 milhões, vindos da venda de drogas, Lulu pagava bons salários e era dado a ações assistencialistas. Ele foi atacado por Eduíno Araújo Filho, o Dudu, que queria para si a Rocinha e seu faturamento. Dudu é mais temido que querido. Tem fama de sanguinário no Estado paralelo. O povo da Rocinha não gostou da morte de seu líder. Em seu enterro, a polícia do Estado legítimo foi proibida de entrar. E não entrou.

A população da Rocinha hoje teme quem será seu novo governante. A única certeza que tem é que ele virá do Estado paralelo. Até porque ele é muito melhor empregador que o Estado legítimo.