Treinamento para a Olimpíada de Pequim não é só coisa de atleta. A preparação da empresária Celina Carpi, 43 anos, é uma prova disso. Com passagem marcada para a China, a carioca estuda mandarim e também recebe lições de bons modos para os padrões chineses. Isso mesmo: o aluno aprende a não pagar mico em um país com hábitos e cultura bastante diferentes dos nossos. O jeitão boa-praça dos brasileiros pode criar situações embaraçosas – o que tira o humor dos anfitriões dos Jogos. “Perder a face, ou seja, se envolver em uma saia-justa, é algo que o chinês faz de tudo para evitar”, explica Suzana Bandeira, consultora da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico, que ofere ce um curso só de etiqueta. A mania de puxar papo com desconhecidos no elevador é bola fora no país-sede da Olimpíada. Como não está acostumado com essa intimidade, o chinês não saberá como reagir. “Não sou obrigada a me adaptar, mas acho que é uma forma de mostrar respeito e interesse”, diz Celina, que visitará o país pela primeira vez, na companhia do marido.

A ex-ginasta Luisa Parente, 35 anos, que comentará os Jogos para uma emissora de tevê, também faz questão de aprender sobre a cultura do país. “É fundamental quando você se propõe a conhecer de verdade o lugar aonde vai”, afirma. Aluna do curso de mandarim do Centro Cultural China-Brasil, no Rio, ela aprendeu que, para os chineses, trocar cartões de visita com as duas mãos é sinal de respeito. “Também é preciso se inclinar e olhar nos olhos da pessoa”, explica a chinesa Yuan Aiping, fundadora da entidade. Pegar o cartão e, sem dar uma olhada, guardar na bolsa ou no bolso é ofensa mortal. Radicada no Brasil há dez anos, ela já se acostumou ao “jeitinho” brasileiro, mas conta que no início estranhou alguns de nossos hábitos. Dividir a conta do restaurante foi um deles. Na China, isso nunca acontece. Pagar as despesas dos outros é um sinal de generosidade.

Os brasileiros, por sua vez, podem estranhar alguns hábitos dos chineses. Para eles é normal perguntar qual é o salário de alguém que acabaram de conhecer. Tomar banho ou usar o banheiro na frente de estranhos tampouco é um problema. Em uma de suas visitas ao país, Suzana ficou surpresa ao se deparar com um banheiro sem portas – e sem vaso sanitário: “Longe dos hotéis e das áreas turísticas, é comum encontrar um buraco no lugar da privada, mesmo nas grandes cidades. Para quem não está acostumado, é difícil se equilibrar”. Fora os jovens, os chineses não têm costume de trocar carinhos em público. Também não gostam de ser tocados por desconhecidos. Portanto, nada de dois beijinhos. Só um aperto de mão. E olhe lá.