PEDRO DIAS LEITE/FOLHA IMAGEM

DEPOIMENTO Salvatore Cacciola chega ao tribunal em Mônaco no processo de extradição

Depois de um processo judicial que se arrastava havia mais de sete meses, a Justiça de Mônaco anunciou, na quarta-feira 16, o parecer favorável à extradição do ex-banqueiro Salvatore Cacciola para o Brasil. A decisão ainda precisa ser homologada pelo chefe de Estado local, o príncipe Albert II, mas, desde que assumiu, ele jamais contrariou uma decisão do tribunal. A expectativa é de que o aval do príncipe seja dado em um prazo de 15 a 20 dias.

O governo brasileiro comemorou. “Agora é esperar a decisão do príncipe”, disse o secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr. “Estamos muito perto de conseguir destronar o rei da impunidade”, afirmou. E fez pouco da possibilidade de mais um recurso da defesa – que seria um fato inédito em Mônaco. “É um direito deles, mas é também um reflexo do sentimento do cliente, que nunca respeitou a Justiça.” Os advogados de defesa de Cacciola prometem questionar no Tribunal Europeu de Direitos Humanos os mandados de prisão expedidos pela Justiça do Rio e que embasam a extradição. Se ele for extraditado, o Brasil passará a trabalhar pela recuperação de valores que Cacciola teria retirado irregularmente do País.

A volta de Cacciola provoca calafrios nos políticos por se tratar de um arquivo vivo que vez ou outra ameaça se abrir. Ex-dono do banco Marka, ele protagonizou um dos momentos mais críticos do governo de Fernando Henrique Cardoso, em janeiro de 1999, quando houve a queda do real. Na época, sob a alegação de evitar uma quebradeira geral, o então presidente do Banco Central, Francisco Lopes, vendeu dólares mais barato aos bancos Marka e FonteCindam, causando um prejuízo de cerca de R$ 1,5 bilhão aos cofres públicos. Foragido da Justiça brasileira desde 2000, quando foi condenado a 13 anos de prisão por desvio de dinheiro público e gestão fraudulenta de instituição financeira, o ex-banqueiro foi detido em Roma em setembro de 2007 pela Interpol.

R$ 1,5 bilhão foi o prejuízo causado aos cofres públicos pela venda de dólares do BC ao Marka e FonteCindam

Desde então, conforme revelou ISTOÉ em novembro último, alguns políticos brasileiros têm recebido recados ameaçadores por meio de pessoas próximas ao ex-banqueiro. As chantagens de Cacciola têm como alvo principalmente políticos do PSDB. A esses, o ex-banqueibanqueiro avisou no ano passado que teria em seu poder documentos que comprovariam a existência de um esquema de venda de informações privilegiadas sobre juros e câmbio, pelo então presidente do BC, Francisco Lopes, e estaria disposto a envolver pessoas que ainda não foram citadas no escândalo.

A chantagem seria semelhante à que Cacciola supostamente fez na época da desvalorização do real para obter em 1999 o socorro ao Marka. Em seu retorno ao País, o ex-banqueiro poderia contar detalhes à Polícia Federal, em busca da delação premiada. Suas ameaças chegaram a ser motivo de pelo menos duas reuniões convocadas pelo ex-presidente Fernando Henrique entre os dias 17 e 30 de setembro de 2007. Os tucanos, no entanto, garantem que não estão preocupados com a extradição. Outro alvo das chantagens de Cacciola, no ano passado, foi o senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Na ocasião, o petista disse não ter nada a temer.