A avalanche de loiras, tingidas ou não, que apareceu na tevê por conta do aclamado concurso para substituir Carla Perez no grupo É o Tchan!, deu a elas, pelo menos para as oito finalistas, mais do que os decantados 15 minutos de fama. Sheila Mello, como se sabe, conquistou o almejado posto rebolativo e imediatamente adotou o shortinho de lycra como uniforme de trabalho. E as outras sete? Vão muito bem. Graças às dezenas de grupos de axé music e de pagode glitter que tomam conta da MPB, os bumbuns perdedores acharam um lugar ao sol e, mesmo com suas embalagens semelhantes, foram devidamente encaixados em diversos projetos artísticos. Como a oferta tem sido grande, surgiu até uma firma especializada em dar um destino à carreira de cada postulante a loira famosa. É a empresa baiana Bicho da Cara Preta, produtora de vários grupos musicais do gênero, que cobrou R$ 50 pela inscrição e gerou uma receita veloz de R$ 125 mil. A fama imediata das mais afortunadas desembocou em contratos igualmente rápidos e quem empresaria as meninas é o dono da Bicho, Cau Adan, a quem são entregues 50% dos cachês.

Daniela Freitas e Leila Farias, por exemplo, respectivamente segundo e terceiro lugares no concurso, acabaram de posar juntas, no Nordeste, para uma revista masculina. Cada uma ganhou em torno de R$ 40 mil. Metade vai para o Bicho da Cara Preta. A curta história de Daniela, 19 anos, paulista de Santo André, foi bem traçada. Mal terminou o segundo grau, pôs a mochila nas costas, arrebitou o tchan e foi ser dançarina em Porto Seguro. Já estava bom demais. Mas surgiu o concurso e acabou sendo a vice-campeã. Recentemente, ela e Leila foram convidadas a balançar o derrière na Companhia do Pagode. Toparam. "Estou adorando. Ser símbolo sexual é supergostoso", diz. "Toda mulher gosta de ser admirada. É bom para o meu ego." O passado da sua colega de rebolado Leila Farias é bem distinto. Ela é prima distante do ex-tesoureiro de Fernando Collor, Paulo César Farias. "Sou da parte pobre da família", garante a alagoana de 23 anos. Em matéria de contradição, no entanto, a ex-modelo já se mostra bem afinada com os laços familiares. Apesar de estar vivendo da fama de seus atributos calipígios, reclama da fixação do brasileiro por esta parte do corpo feminino. "Nas fotos para a revista, vai aparecer mais bunda do que rosto", conta. Mas admite: "Por ser empinadinha, durinha e com pelos dourados, todos querem tocar para ver se é de verdade", se diverte a menina, que de tão generosa permite aos curiosos alguns segundos táteis. "Eles apertam e se impressionam."

Mas nem todas as loiras topam tudo. A carioca Michelle Carvalho, quarta colocada, 1,70m e 100cm de bumbum, acabou sendo convidada para dançar na Gang do Samba, outro grupo do Bicho da Cara Preta. Recusou. "Era para fazer dez shows por mês por um cachê de R$ 100 cada e ainda pagar o meu aluguel em Salvador. Não valia a pena", calculou Michelle. Uma revista masculina também quis tê-la nua por R$ 40 mil, metade para ela e metade para o Bicho. Outra recusa. Não é para menos. Filha do dono de uma tradicional empresa de mudanças do Rio de Janeiro, a bonitona cursa Administração de Empresas, mora numa bela casa com vista para a praia da Barra, no sofisticado bairro da Joatinga, tem dinheiro para frequentar as melhores lojas e restaurantes da cidade, mas queria mesmo é ser loura do É o Tchan! "E por que não? O Tchan não é uma entidade social para alguém subir na vida, é para ficar famosa. Desde pequena gosto de aparecer", explica Michelle, que é incentivada pela mãe, Elda, rainha do clube da Varig em 1975. "Prefiro ficar mais famosa, aí sim posar nua por um bom cachê", avisa a carioca.

Quem trocou o frio do Sul pela lascívia soteropolitana foi a gaúcha Fernanda Carvalho. Nascida na pequena Taquari, era fera em balé e patinação artística. Não curtia o Tchan!, mas, cansada de coordenar um grupo que imitava as Chiquititas, se inscreveu na tal competição. Apesar de finalista, estava sendo cozida em banho-maria pelo Bicho da Cara Preta. Até que surgiu o convite para rebolar no Raça Pura, grupo empresariado pelo jogador Edílson, do Corinthians. "Não gosto de ser rotulada como finalista do Tchan! Preciso provar meu talento para superar o preconceito dos baianos", promete Fernanda, que diz ser cabeça feita. "Não tiro a roupa por menos de R$ 50 mil! No meio artístico, alguns acham que por sermos dançarinas topamos tudo", conta, assustada com os assédios. Feliz da vida por rebolar ao som de "o pinto do meu pai está saindo com a galinha da vizinha", Fernanda, que ganha R$ 1.500 por mês, vem rodando o Brasil. Mesmo com os percalços de um início de carreira, elas querem porque querem chegar lá.


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