Um missionário irá conduzir a barca de Pedro em mares revoltos. A escolha de Francisco – o primeiro Francisco – para tão difícil travessia é cercada de ineditismos e simbolismos: nunca antes um jesuíta havia ocupado o posto, nunca antes um latino-americano, e há quase 1.300 anos, não havia um papa de fora da Europa. O argentino, batizado Jorge Mario Bergoglio, já representa por si só uma mudança radical de curso. Rumo ao novo mundo e a uma nova era. Francisco, como escolheu ser chamado, fez a opção clara pelos pobres, em sintonia com suas convicções de desapego material e simplicidade de vida. Francisco quer estar mais próximo do povo, ampliar o rebanho e reforçar a doutrina da fé cristã. Longe dos desígnios contaminados da Cúria. Francisco terá de mudar a Igreja, hoje envolvida numa nuvem de escândalos financeiros e sexuais que maculam a sua imagem. Francisco é um reformador por natureza. Um conservador apegado à doutrina e resistente às correntes liberalizantes, mas, dada a sua bagagem intelectual e humana, disposto a comandar cruzadas contra injustiças. Ao prelado e episcopado lançou o recado de que trará surpresas. Muitos torcem para que Francisco, que disse vir do “fim do mundo”, lute por um mundo novo onde o combate à miséria e a desigualdade seja uma constante. Francisco pode chamar o terceiro concílio e, com isso, romper dogmas. Francisco está acostumado a crises. Foi nomeado cardeal em meio a uma delas em seu país, nos idos de 2001. Alcança agora a condição de sumo pontífice em plena crise global e é da crise que buscou inspiração para o nome com o qual pretende ser conhecido daqui para a frente: devoto de Francisco de Assis, lembrou que o santo ajudou no resgate da fé católica em um momento em que ela andava rarefeita. A geografia política do Vaticano será, certamente, sacudida pelos ventos modernizantes da era franciscana. Acabou a sé vacante e Roma despertou para a América, celeiro da maior concentração católica do mundo e que ganha, com Francisco, a justa representatividade. O pastor carismático, humilde e modesto, ungido por seus pares, apóstolo do desprendimento, deverá trazer a boa-nova. Sem pompa ou circunstância, fará importantes escolhas para enormes desafios.