Está provado: eleger um papa, mesmo com a necessidade de adesão de dois terços dos cardeais, é tarefa bem mais simples do que promover uma reforma ministerial que acomode todos os interesses da gigantesca base aliada do governo Dilma.

No Vaticano, 48 horas foram suficientes para que os cardeais soltassem a fumaça branca e, logo após o “habemus papam”, anunciassem o argentino Jorge Bergoglio como Francisco I. Em Brasília, das chaminés do Palácio do Planalto só sai fumaça preta há vários meses.

Mesmo com seus quase 40 ministérios, Dilma decidiu pedir um tempo adicional ao vice-presidente, Michel Temer, diante da dificuldade em atender todos os partidos.

Com o PMDB, o jogo parecia estar já acertado. Dilma convidaria o presidente do partido em Minas, Antônio Andrade, para assumir o comando da Agricultura. O titular da pasta, Mendes Ribeiro, assumiria a Secretaria de Assuntos Estratégicos, deslocando seu atual chefe, Wellington Moreira Franco, braço direito de Temer, para a poderosa Secretaria de Aviação Civil.

Tudo combinado, nada resolvido. A aviação civil é uma área cobiçada também pelo PSD, do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. Com um partido forte na Câmara, Kassab vem sendo cortejado tanto por Dilma quanto por Eduardo Campos, do PSB, e os líderes da legenda já avisaram ao Planalto que o Ministério da Pequena Empresa, que está sendo criado por Dilma para abrigar Guilherme Afif Domingos, é pouco para o partido. Ou não o suficiente para garantir a adesão automática à reeleição da presidenta em 2014.

No PDT, os dois principais caciques do partido, o presidente, Carlos Lupi, e o sindicalista Paulinho da Força, exigem a demissão do ministro Brizola Neto e propõem o nome do deputado Manoel Dias (PDT/SC). Mas Dilma resiste e ainda articula a candidatura do ex-prefeito de Porto Alegre Alceu Collares à presidência do partido, contra Lupi. Para piorar, há ainda o PR. Dilma propôs à sigla entregar não um ministério, como o dos Transportes, mas o comando de uma estatal, a Valec, que cuida das ferrovias, e do Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes, o Dnit. Mas os líderes do PR, cientes do esvaziamento tanto da Valec como do Dnit, têm repetido o mesmo mantra: “Queremos ministério.”

Por isso mesmo, a melhor definição da reforma ministerial, prometida, mas não realizada, foi feita pelo deputado André Figueiredo (PDT/CE), que lidera seu partido na Câmara dos Deputados. “Podia ter uma chaminé no Planalto para ficarmos sabendo quando a reforma ministerial vai sair. Por enquanto, só fumaça preta.”