i71401.jpgA cabou a harmonia entre os músicos da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), do Rio de Janeiro, e o maestro paulista Roberto Minczuk, 41 anos. Na segunda-feira 20, sessenta e dois instrumentistas se reuniram e aprovaram por quase unanimidade (apenas dois foram contra) o envio de um pedido de demissão do maestro ao Conselho Curador da instituição. O porta-voz dos artistas revoltosos, o violinista Ubiratan Rodrigues, não fala dos motivos com clareza.

"Ainda estamos nos reunindo e tomando decisões", diz ele, confirmando, porém, que o documento pedindo a saída de Minczuk já está nas mãos do presidente do Conselho Curador, Eleazar de Carvalho Filho. Extra-oficialmente, alguns músicos dizem que o estopim da briga foi a proposta de acordo coletivo do maestro, que previa aumento na carga de ensaios e também regime de dedicação exclusiva, ou seja, a proibição de que toquem em outras orquestras. Minczuk, que está no comando da OSB desde 2005, já rebateu, dizendo que tais regras vêm da fundação que administra a orquestra e não dele.

O movimento pode desafinar mais o ritmo carioca porque acontece a menos de dois meses da inauguração da polêmica Cidade da Música, obra do prefeito Cesar Maia que gerou até CPI na Câmara dos Vereadores pela lentidão e pelos custos acima do orçamento previsto. A OSB deverá se apresentar na noite de estréia, marcada para 19 de dezembro, com um concerto da cantora lírica Aprile Millo, cantando árias da Tosca, de Giacomo Puccini. Um atraso nos ensaios provocado pela falta de maestro pode adiar mais uma vez a abertura da Cidade da Música. Questionado, Maia passou a batuta. "Sugiro perguntar ao (Ricardo) Macieira", disse, referindo-se ao secretário das Culturas. Macieira não foi localizado para dizer se há plano B para o imbróglio da orquestra.

Eleazar de Carvalho, que estava no Exterior, retornou ao Brasil para cuidar pessoalmente do problema, mas nada foi divulgado. A assessoria da orquestra explicara que "como o conselho da OSB ainda não recebeu nenhum documento por parte dos músicos solicitando o afastamento do maestro, qualquer pronunciamento só aconteceria depois disto". O violinista Ubiratan Rodrigues tenta afirmar o profissionalismo da classe: "Vamos cumprir os compromissos já assinados para que não pareça que é uma simples greve. Não é uma greve", disse ele na quinta-feira 23. No mesmo dia, Carvalho e Minczuk conversaram sobre os destinos da instituição. Em julho passado, Minczuk passou por situação parecida, quando se falava nos bastidores que ele seria afastado da direção artística do Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, no interior de São Paulo. Mas o secretário de Estado da Cultura, João Sayad, confirmou que ele continuaria no cargo pelo menos por mais dois anos.

i71402.jpgA VIDA IMITA A ARTE
Em 1979, o diretor italiano Federico Fellini imaginou uma rebelião de músicos bem mais barulhenta que a vivida pela OSB no filme Ensaio de orquestra. A história se passa em uma igreja onde uma sinfônica italiana ensaia sob a batuta de um maestro alemão. Autoritário, ele dirige com mão de ferro o grupo de instrumentistas, mas, no intervalo dos ensaios, encontra o ambiente em completo caos. "Se Wagner tivesse que se curvar às greves e reivindicações dos músicos, ele nunca teria conseguido escrever suas óperas e sinfonias", diz no filme