EDSON RUIZ/AG. ISTOÉ

JUTAHY JÚNIOR credita à herança
o patrimônio de R$ 3,58 milhões, com apartamento
de luxo em Salvador

Oficialmente, a Receita Federal trata como informação sigilosa os dados sobre a variação patrimonial dos cidadãos brasileiros que declaram Imposto de Renda. Auditores da Receita, no entanto, asseguram que a variação patrimonial média dos brasileiros que prestam contas ao Fisco varia entre 4,5% e 6% a cada quatro anos. Tratase de um índice muito inferior àquele registrado pelas declarações de renda dos deputados federais. Em média, o patrimônio desses parlamentares cresce 40% a cada mandato, segundo levantamento feito com base nos documentos apresentados pelos próprios parlamentares à Justiça Eleitoral. Entre os dez deputados campeões em crescimento patrimonial, os números são enormes. Esses, em períodos que variam de quatro a dez anos, conseguiram aumentar seus bens entre 9,1 e 106,6 vezes. Todos eles, porém, asseguram que multiplicaram a riqueza em razão da competência profissional ou por herança. Nenhum afirma que a política seja um bom negócio.

Em 2002, Andreia Zito foi eleita deputada estadual no Rio de Janeiro. Na época, declarou possuir rendimentos tributáveis de R$ 83 mil. Quatro anos depois, foi eleita deputada federal pelo PSDB fluminense e em sua relação de bens estão listados 21 imóveis, entre salas comerciais, terrenos e um edifício em Guarapimirim, no interior do Rio de Janeiro. “Eu acho. Acho não, tenho certeza de que não há irregularidade com a evolução de meu patrimônio”, afirma a deputada. Segundo ela, o crescimento de 106,6 vezes em seus bens se deve a empréstimos que recebeu de seu pai, José Zito, ex-prefeito de Caxias, na Baixada Fluminense. O deputado Olavo Calheiros, do PMDB alagoano, não quis dar explicações sobre seu patrimônio. Em 1996, segundo declaração apresentada na eleição de 1998, ele possuía o equivalente a R$ 38 mil. Na declaração apresentada em 2006, seu patrimônio equivale a R$ 3,9 milhões: 103 vezes maior que o anterior.

O valor dos bens do primeiro vice-presidente da Câmara, deputado Nárcio Rodrigues, do PSDB mineiro, cresceu 68 vezes em dez anos. Em 1996, ele dizia possuir R$ 8,2 mil, número que saltou para R$ 566 mil, apesar de uma lista com 18 imóveis. “Não diria que sou um homem rico”, diz Nárcio. “Dei consultorias em campanhas e pude ganhar alguma coisa a mais.” Ao contrário dele, o deputado Odílio Balbinotti, do PMDB paranaense, se diz um homem rico. Ele tinha R$ 2,2 milhões em 1996. Dez anos depois, acumulou R$ 123,7 milhões: 55,2 vezes mais. “Sou rico, declaro tudo o que tenho e pago imposto”, diz Balbinotti. Ele afirma que passou a vender sementes de soja e com isso incorpora 30% de valor agregado ao grão bruto. “Política nunca me deu dinheiro”, afirma Balbinotti. Em uma das fazendas do parlamentar há hangar para aviões agrícolas e outro para avião comercial. Dono de um frigorífico em Estrela D’Oeste, no interior de São Paulo, Vadão Gomes, do PP, também acredita que a atividade parlamentar não traz riqueza. “Em termos financeiros, a política só me tira recursos”, afirma. Em oito anos, seu patrimônio cresceu 9,1 vezes e em 2006 declarou bens no valor de R$ 35 milhões, segundo ele, fruto de economias e do trabalho desenvolvido fora do Congresso. “Sou o único deputado da história que não gasta verba de representação e assessoria”, diz Vadão.

FOTOS: IVAN AMORIN/POLEN COMUNICAÇÃO

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BALBINOTTI multiplicou o patrimônio 55,2 vezes e diz que a política nunca lhe deu dinheiro

O deputado Jilmar Tatto, do PT paulista, enriqueceu 10,5 vezes em oito anos, passando a um patrimônio de R$ 1,64 milhão. Tatto está na China. Comprometeu- se a explicar sua evolução patrimonial, mas até o fechamento dessa reportagem não entrou em contato com a redação.

“Não há a menor possibilidade de alguém ter elevação patrimonial só com a vida pública”, sentencia o deputado Jutahy Júnior, do PSDB baiano. “Se o meu patrimônio tivesse crescido só com a atividade política, pode ter certeza de que seria atividade ilícita”, garante. O patrimônio dele cresceu 10,9 vezes em dez anos e na última eleição declarou possuir bens equivalentes a R$ 3,58 milhões. Jutahy diz que deu uma arrancada financeira na vida graças à herança do pai e do avô. Estrela ascendente da CPI dos Cartões, o deputado Vic Pires Franco, do DEM paraense, aumentou o patrimônio de R$ 490 mil em 1996 para R$ 4,86 milhões nas últimas eleições e virou alvo da Receita Federal. Foram 11 meses de devassa fiscal. Ao fim, os auditores reconheceram que não havia irregularidade nas contas. O avô do deputado, Victor Pires, era conhecido como o Rei da Borracha na Amazônia, até ser morto por um sobrinho com 36 facadas, em 1944. Para sorte do deputado, o avô determinou que a partilha de bens só fosse feita pela atual geração, a do deputado.

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