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O vestido branco que a cantora americana Rihanna usa no videoclipe de Umbrella lembra o de Marilyn Monroe no filme O pecado mora ao lado. Mas, ao contrário da atriz, a cantora nem se preocupa com o vento que teima em deixar um minúsculo shortinho preto à mostra enquanto rebola. É de se entranhar que um vídeo com tanto apelo sexual seja um dos preferidos das discípulas de Inri Cristo, o líder religioso catarinense que se autoproclama a reencarnação de Jesus. Pois é. Com trajes mais comportados e sem sacolejar, três delas estrelam o que chamam de "paródia mística" do hit pop. A melodia é a mesma, mas a letra exalta o filho de Deus. Misturar religião e música pop foi o caminho que elas encontraram para levar a mensagem de Jesus aos jovens. Deu certo. Quer dizer, mais ou menos. O trio virou um fenômeno na internet, mas por outro motivo. O videoclipe da versão religiosa de Umbrella contabiliza aproximadamente meio milhão de acessos só no YouTube.
São internautas que se divertem com o "plágio divino". "Sabemos que a maioria só vê o vídeo para rir, mas alguma coisa fica na cabeça de quem o assiste", aposta a paranaense Alarissa, 20 anos.
Faz sentido: Inri Cristo, 60 anos, é considerado risível mesmo. Já apareceu em programas de tevê, como SuperPop e CQC, para falar da Suprema Ordem Universal da Santíssima Trindade (Soust), que criou em 1982 e tem sede em Brasília. Alarissa é a apresentadora de vários videoclipes, todos inspirados em músicas famosas e protagonizados pelas discípulas Asusana e Alíbera, cujas idades não são reveladas. "Não queremos decepcionar nossos fãs", divete-se a paranaense Alíbera. Motivadas pelo sucesso do primeiro vídeo postado no YouTube (uma versão de A banda, de Chico Buarque), elas passaram a produzir novas e mais elaboradas "paródias divinas", como as de Hotel California, do Eagles, e Living on a prayer, do Bon Jovi. As letras são escritas pelas próprias discípulas ou por seguidores de Inri Cristo que preferem se manter anônimos.
Alíbera conta que tudo começou como uma brincadeira para animar o autoproclamado filho de Deus. "Cantávamos para alegrá-lo porque, às vezes, ele fica triste com tudo o que vê nos jornais e na tevê", relata. "Aí, veio a idéia do plágio divino e a paródia de A banda, música que o Inri adora", conta. Embora seja o ritmo que embala o Carnaval, uma festa considerada pagã, o samba é um dos estilos musicais de que o líder espiritual mais gosta. "Ele não nos proíbe de nada, porque prega a autoconsciência", explica a paulista Asusana. Suas discípulas também ouvem todo tipo de música e assistem a qualquer gênero de filme e seriado de tevê. "Mas procuramos filtrar o que é bom", ressalta a paranaense Assinorê. São poucas as restrições. Uma delas está relacionada ao vestuário. As discípulas usam uma túnica, que pode ser marrom, azul ou branca (dependendo da hierarquia), mesmo quando saem para passear. Elas dirigem, saem à noite e até bebem um pouco de vez em quando. " Quando está quente, a gente toma uma cervejinha. Só evitamos beber porque o álcool envelhece", diz Alíbera.
i71166.jpgVaidosas, estão sempre com os cabelos bem penteados e maquiadas. Os produtos de beleza, segundo elas, são doados por uma seguidora benemérita, que gosta de ver as moças arrumadas. "A vaidade só é ruim quando é exagerada", argumenta Alíbera. As cantadas dos fãs chegam aos montes, mas elas tiram de letra. "Alguns até vêm aqui com segundas intenções, mas na primeira conversa criamos amizade e acabamos virando confidentes", garante ela. Relacionamento amoroso é outra das poucas limitações. Ao serem (re)batizadas por Inri Cristo (sempre com um nome iniciado pela letra A), elas fazem um voto de fidelidade ao filho de Deus – o que as impede de namorar, casar e ter filhos. Já aconteceu, porém, de uma discípula pedir para ser liberada do juramento após mais de uma década de dedicação. Hoje ela é casada e tem uma filha. "Foi o Inri quem celebrou o casamento dela. Ela adorava a vida aqui, mas se apaixonou. Acontece", admite Alíbera.