Fotos: Ricardo Giraldez

Dedicação: em visita às comunidades, Lu Alckmin ouve as queixas e as histórias de sucesso das padarias artesanais. Os relatos devem virar livro

A mistura não tem segredo. É só juntar um pouco de boa vontade dos governantes e uma porção de apoio de empresas e da sociedade civil num caldeirão de necessidades. Está pronta a receita do Programa Padarias Artesanais, que está enriquecendo a mesa de milhares de pessoas em todo o Estado de São Paulo. Ele ensina a população a colocar, literalmente, a mão na massa para fazer pães e distribui kits compostos por forno, batedeira, liquidificador, balança, assadeiras e botijão de gás. Criado pelo Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo, já distribuiu mais de cinco mil kits, beneficiando mais de 1,9 mil entidades só na capital. Está sendo desenvolvido em comunidades de baixa renda, assentamentos, creches, entidades assistenciais, unidades da Febem e penitenciárias.

Funciona assim: as comunidades ou instituições se cadastram no programa e recebem o kit; depois, cada comunidade elege um representante para ser capacitado – ele aprende a fazer pão, mas também recebe noções básicas de saúde, higiene e cidadania. “Quem faz o treinamento tem a missão de ser um agente multiplicador na sua comunidade, repassando o que aprendeu para os moradores. Com o domínio da técnica, as famílias começam a produzir e a comercializar os pães em suas casas. Os bons resultados nos mostram que é investindo no ser humano que podemos promover o seu desenvolvimento”, ressalta Maria Lucia Alckmin, a dona Lu, como é conhecida a primeira-dama do Estado, também presidente do Fundo Social de Solidariedade. Esse conhecimento deu novas perspectivas à dona-de-casa Eliane de Paula Teixeira, 30 anos, mãe de três filhos. Moradora da favela Rocinha, na zona sul da capital, ela aprendeu a fazer pães e salgadinhos. “Vou preparar tudo muito gostoso e vender no comércio aqui da região. O curso de culinária nos animou tanto que eu e meu marido voltamos a estudar, depois de 20 anos fora da escola. Nosso plano é abrir um negócio e fornecer para festas”, conta Eliane.

O sucesso do programa não se deve apenas aos fornos e botijões distribuídos. De acordo com Lu Alckmin, o envolvimento das associações de bairro e de organizações não-governamentais na aplicação do projeto tem sido fundamental. “São elas que fazem o trabalho entre os moradores. Organizam reuniões e saem de casa em casa convidando as pessoas para os cursos. Além disso, buscam no próprio bairro parcerias com donos de lojas, padarias, salões de cabeleireiros e profissionais liberais para a criação de novos projetos. Elas fazem o trabalho pesado. A minha parte é articular para trazer as melhorias”, explica dona Lu. No Jardim Elba, zona sul de São Paulo, esse trabalho é feito pela líder comunitária Iasmin Loberto, que também dirige o Centro Integrado de Ação Social, organização não-governamental que oferece educação profissional para jovens de baixa renda na região. Ela circula diariamente pelas 20 favelas espalhadas pelo bairro, ouvindo as queixas dos moradores e divulgando os cursos. “É um esgoto aberto aqui, é uma fiação com risco de curto-circuito ali. Por aqui, problema é o que não falta. Quando dona Lu nos visita, transmito a ela o recado”, relata Iasmin.

E é com muita atenção e paciência que a primeira-dama ouve e registra em seu inseparável caderno de anotações as queixas e as histórias da população. Na última visita que fez aos moradores do Jardim Elba, foram mais de dez páginas de relatos. “Anoto tudo que acontece quando saio para visitar as comunidades. Não registro apenas os problemas. Escrevo todas as histórias de sucesso das pessoas que estão mudando de vida com o programa. Elas são tão emocionantes que pretendo transformá-las em um livro”, revela dona Lu, que se emociona só de falar do assunto.

Se depender das boas histórias, um livro pode ser pouco. É que, desde o início do ano, o Programa Padarias Artesanais começou a ser implantado nas seis mil escolas públicas do Estado – além dos alunos, os pais também poderão fazer o curso nos finais de semana. Sem contar que o sucesso do programa despertou o interesse de outros Estados e até de outros países. Rio de Janeiro e Minas Gerais adotaram a idéia, e, recentemente, representantes dos governos do Paraguai e da Venezuela estiveram no Brasil para conhecer de perto o programa. É o milagre da multiplicação dos pães.