Daniel Wainstein

Dupla dinâmica: Izabel (à esq.) e Patrizia querem acabar com o tabu que envolve os objetos que esquentam a relação

No meio de um animado chá de cozinha, a ex-bailarina Fátima Moura, 43 anos, comenta que vai mostrar as qualidades de um vibrador que trouxe na maleta. Uma elegante senhora, que até aquele momento assistia impassível à algazarra, arregala os olhos. “Calma”, pede Fátima, ao mesmo tempo que exibe uma réplica de 20 cm de um pincel de blush. Ela gira a base do artefato fazendo-o vibrar. Em seguida, acaricia com ele o próprio pescoço. O efeito é uma cócega. É para isso que se presta o brinquedo. A senhora suspira aliviada.

Artigos discretos como o pincel estão entre os itens que mais despertam a atenção das mulheres que contratam os serviços de Fátima, uma revendedora domiciliar de produtos eróticos. Há três anos, a ex-bailarina se dedica a essas vendas feitas no que batizou de chá de lingerie ou em reuniões dedicadas a um público com idade entre 40 e 50 anos. “É tudo muito chique, com manobrista na porta e garçons. Sempre em bairros classe A”, conta. Os grupos são grandes. Em torno de 40 pessoas dispostas a aprender a incrementar a transa e a lidar com esses objetos do prazer.

Chique também será a loja que as publicitárias Patrizia Curi e Izabel Collor de Mello vão inaugurar em maio nos Jardins, área nobre de São Paulo. A Maison Z é, para suas criadoras, uma butique erótica, e não uma sex shop. Em suas prateleiras, haverá objetos de porcelana com desenhos sensuais, lingeries sexies, literatura apimentada e toda a sorte de “brinquedos”, dos mais discretos aos mais tradicionais. “A Maison Z traz o lado sutil do erotismo, um conceito de loja novo para o brasileiro”, diz Izabel, sobrinha do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Patrizia ressalta que as clientes ficarão à vontade. “Poderão dar um tempo no nosso bar enquanto outra pessoa olha um setor, por exemplo. Mas queremos acabar com o tabu e o medo de se entrar numa sex shop”, afirma.

Fotos: Dárcio de Jesus

Pronta entrega: nos chás de lingerie que organiza, Fátima dá dicas de sexo e vende vários acessórios

Que o negócio está se transformando, os próprios empresários do setor – há 500 sex shops no País – estão se dando conta. “O Brasil está acordando para a tendência de trabalhar com produtos voltados ao amor, algo que já acontece há anos nos Estados Unidos e na Europa”, reforça Valéria de Albuquerque, dona da distribuidora Erotic Point, que abastece diversas casas do ramo. Isso quer dizer mudança na oferta de itens, mas também na maneira de receber o público, essencialmente feminino. “O serviço tem de ser diferenciado e as lojas devem oferecer cursos como os de sedução. São coisas assim que elas querem”, acrescenta. Valéria abordará o novo conceito de sex shop nesta semana durante a 8ª Erótika Fair, em São Paulo, a principal feira do segmento na América Latina. Ela tem o apoio de Evaldo Shiroma, presidente da Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual, um setor que movimenta R$ 700 milhões por ano. “Antes, os principais compradores eram homens. Agora, as mulheres respondem por 60% do faturamento”, revela.

No caso da loja de roupas Clube Chocolate, de São Paulo, elas são responsáveis por 100% do movimento da área destinada ao erotismo. A empresa carioca abriu suas portas em dezembro na capital paulista com um toque diferente. Inventou uma sala especial com lingeries importadas, chicotinhos estilizados e mais um variado aparato erótico, reabastecida de novidades a cada semana. “Juntamos produtos sofisticados e engraçados. Quem quiser pode entrar lá e sair vestida para matar”, diverte-se o diretor José Xavier Neto. Esse espaço, conhecido como Clube das Meninas, fica aberto de domingo a domingo e é exclusivíssimo. Homens não entram nem conseguem enxergar o que se passa no lugar. O negócio fez tanto sucesso que a Clube Chocolate do Rio, que existe há dois anos, também terá daqui a dois meses o seu Clube das Meninas. Mulheres, preparem-se.

PRODUTOS ERÓTICOS
 
DivulgaçãoFotos: Dárcio de Jesus
Novidade: uma calcinha com microvibrador e controle remoto chega ao mercadoEstímulo: algumas sex shops comercializam vibradores que se encaixam no dedo
  
Fotos: Dárcio de JesusFotos: Dárcio de Jesus
Carícia: a réplica de pincel de blush de 20 cm serve para acariciar o corpoPorcelana: butique oferecerá itens com apelo sensual como o prato de sushi e a saboneteira
  
Fotos: Dárcio de JesusFotos: Dárcio de Jesus
Lulus: as cores e os designs de nécessaires e sabonetes da Maison Z foram escolhidos especialmente para agradar às mulheresDiversão: o tesômetro brinca de medir o desejo; a água sobe se a pessoa está “quente”
  
Fotos: Dárcio de Jesus 
Toque: um campeão de vendas é o capacete que produz arrepios