Fotos: Divulgação

Presos no Carandiru: câmera como se fosse brinquedo

Na abertura de O prisioneiro da grade de ferro (Brasil, 2003), em cartaz em São Paulo na sexta-feira 16, um homem explica a um grupo de presidiários recém-chegados ao extinto e funesto Carandiru seus direitos e deveres a partir daquele momento. Vistos de costas, os homens ouvem atentamente como se estivessem numa sala de aula. “Não vou ser cínico e lhes dar boas-vindas”, diz a autoridade. O que se verá nas duas horas seguintes avaliza e amplifica o comentário com registros da degradação humana provocada pelo confinamento naquele inferno prisional.

Rodado durante sete meses de 2001, um ano antes da implosão de alguns pavilhões do presídio paulistano, o documentário é resultado de um curso de vídeo ministrado no local pelo diretor Paulo Sacramento. Muitas cenas foram gravadas em vídeo digital pelos próprios presos, que aparecem manipulando a câmera como quem descobre um brinquedo novo.

Há momentos de intensidade dramática. Num deles, Sacramento acompanha a saída do prisioneiro Lúcio Antônio de Carvalho, o Pernambuco, autorizado a passar uma semana com a família por bom comportamento. Campeão de vale-tudo e criador de uma academia de musculação no presídio, Carvalho vê a rua pela primeira vez depois de um ano e meio. É uma cena de caráter emocional pela maneira com que a lente capta olhares e emoções expostas. Tivesse investido em registros parecidos e não apenas nas “curiosidades” internas, Sacramento teria chegado a um filme mais perturbador, principalmente se usasse poder de síntese e fechasse o foco da sua observação.