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SEMENTE
A bióloga Andrea Vanini e uma muda nativa da mata atlântica.
A planta colabora ativamente no processo de restauração

Um punhado de sementes ou mudas – nativas ou não –, adubo e regas com água. Essa fórmula singela de reflorestamento ajuda a cobrir áreas devastadas e pacifica a consciência ambiental de muita gente. Mas, para um grupo de ecologistas, isso não basta. A meta deles não é apenas recolorir de verde a paisagem, mas sim devolver a ela todos os tons, fauna e flora que existiam ali antes da aparição do homem e suas ferramentas. O conjunto de estratégias para atingir esse objetivo foi batizado de restauração ecológica e começa a ganhar força no Brasil. O método consiste em medidas que induzem os ecossistemas a se regenerar por conta própria, retomando a aparência e a diversidade que tinham milênios atrás. “Parece uma missão impossível, mas a floresta volta”, afirma a bióloga com mestrado em ciências florestais Andrea Vanini, que coordena um projeto da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) de restauração ecológica em uma área de Mata Atlântica no Maciço da Pedra Branca, no Rio de Janeiro.

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Antes de cavar buracos para espalhar as mudas, é preciso estudar o local e conhecer profundamente as espécies nativas. Devolvidas ao solo que ocupavam, essas plantas começam o processo de funcionamento natural da floresta: atraem outras espécies arbóreas (através da polinização) e a fauna (pelo apetite) que compunha o bioma antes da degradação. É esse o ponto em que a restauração ecológica mais se diferencia de outros métodos de recomposição ambiental. O mero reflorestamento também faz crescer árvores, mas sem que elas promovam a sua função ecológica de ajudar na reconstituição do cenário original. “Sem a restauração, fica uma floresta oca por dentro, que acaba voltando para o estado de degradação em que se encontrava antes”, afirma o gestor ambiental Pedro Castro, secretário-executivo do Pacto Pela Restauração da Mata Atlântica.

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Além de plantar mudas e sementes com a mesma variedade original da Mata Atlântica, o projeto da Fiocruz, que conta com R$ 2,5 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cuida da retirada de espécies exóticas que foram introduzidas na região. A meta é abrigar uma diversidade de 400 espécies por cada 100 metros quadrados. Do jeitinho que, segundo os estudiosos, a selva estava antes das intervenções humanas. Em termos ecológicos, não há nada mais civilizado que isso.

Fotos: Ian McAllister/All Canada Photos/Latinstock; Dan Lamont/CORBIS; FIRMAN HIDAYAT/AFP PHOTO