Carlos Magno

Tudo pode melhorar. Lula é
muito bom de rua, sabe fazer política, mas o governo tem
que começar a trabalhar

O Ibope divulgou, na terça-feira 6, um levantamento preocupante para o governo Lula. Para 52% dos eleitores, o Brasil está no caminho errado. O índice de confiança no presidente continuou em queda acentuada: de 60% para 53% em uma semana. Na avaliação de Carlos Augusto Montenegro, 50 anos, presidente do Ibope, o governo tem razões para perder o sono porque pode estar diante de uma trajetória rumo “ao fundo do poço”, mas não faltam luzes no fim do túnel. “Lula é muito bom de rua”, ressalva, recomendando ao governo “trabalhar ordenadamente” para melhorar a economia e sua comunicação. O governo, segundo ele, tem jeito. No próximo mês, o Ibope dá a largada para o duelo eleitoral de outubro, quando serão escolhidos os futuros prefeitos. Ao falar sobre as eleições presidenciais de 2006, ele reitera seu otimismo com a recuperação do presidente. Para Montenegro, hoje não há um adversário capaz de impedir a reeleição de Lula.

ISTOÉ – O que o brasileiro acha de Lula depois do escândalo Waldomiro?
Carlos Augusto Montenegro –
A imagem do presidente Lula não mudou nada em relação ao caso Waldomiro, que já acabou há muito tempo. O problema é a percepção da falta de governo, das coisas não acontecendo, da economia paralisada e dos juros altos. Há também o pavor do desemprego, as invasões do MST, os ministros se desentendendo e a falta de estratégia da comunicação social. Isso tudo é o que derruba a popularidade, queda também já enraizada nas pequenas e médias cidades. Agora vai ser divulgado o salário mínimo, que costuma ser sempre aquém do que se imaginava. Pode ser um quadro próximo ao fundo do poço.

ISTOÉ – O fundo do poço é um caminho sem retorno ou pode impulsionar
a volta por cima?
Montenegro –
Há muitas chances de recuperação. Tudo pode melhorar se a economia e a comunicação melhorarem. Lula é muito bom de rua, sabe fazer política. Mas o governo tem de começar a trabalhar ordenadamente. Grande parte da mídia se apressa em fazer comparações injustas entre uma década de Fernando Henrique e um ano de Lula. É muito pouco tempo para saber o que vai acontecer com o Brasil de Lula.

ISTOÉ – Que consequências políticas podem provocar as invasões do MST?
Montenegro –
Qualquer coisa em nível de desordem, de ilegalidade é sempre ruim. Passa uma imagem de bagunça para o povo brasileiro, que é um povo tranquilo. Se o governo não tomar providências, a situação pode piorar.

ISTOÉ – O sr. acha que a recessão prejudicou mais o governo do que
o caso Waldomiro?
Montenegro –
O quadro econômico é um problema sério, que agravou a crise. É muito pior para o brasileiro do que o caso Waldomiro, uma nuvem passageira. O problema do crescimento, do emprego, da ameaça de recessão é bem mais sério. É com isso que o governo tem de se preocupar, porque o brasileiro votou querendo mudança. Era bem claro que o povo gostava de Fernando Henrique Cardoso, do José Serra, do Plano Real, mas queria mudar prioridades, dar mais ênfase ao social e ao emprego. Isso ainda não estamos vendo. No governo Fernando Henrique, que eu reputo como dos melhores que o País já teve, foram oito anos de momentos bons e ruins, mas com Lula a ansiedade é tanta que a cobrança é diária. Se a mudança não acontecer, aí, sim, vai ser uma decepção muito grande para o eleitorado.

ISTOÉ – Quais são os maiores obstáculos à possível reeleição de Lula?
Montenegro –
Ainda é cedo para se falar nisso. Mas acho que, dentro dos critérios da população que o elegeu, Lula hoje é o favorito. A questão é que não há renovação política. O ex-governador Anthony Garotinho está desgastado e dificilmente Fernando Henrique vai querer, quase aos 80 anos, concorrer com Lula. Um possível candidato do PSDB seria o governador Geraldo Alckmin, mas ainda é cedo para saber.

ISTOÉ – O PT é favorito nas eleições de outubro?
Montenegro –
O partido vai crescer naturalmente porque fez esse trabalho. Se prepara há oito anos para chegar aos grotões. Acho que, no fim, o Brasil estará bem dividido, com algo em torno de cinco ou seis partidos. O PT sempre foi forte nas grandes cidades e montou uma estrutura melhor nas médias e nas pequenas. Hoje são 180 prefeituras, das cerca de 5.600. Se o PT ganhar 600, não será por causa do governo. Aconteceria naturalmente, independentemente de Lula estar no poder.

ISTOÉ – Marta Suplicy, em São Paulo, e Cesar Maia, no Rio, são favoritos?
Montenegro –
São dois casos distintos. Há vários candidatos importantes no Rio e o Cesar Maia está muito bem avaliado pelas pesquisas. Pela população, ele é o favorito absoluto, apesar de concorrentes fortes como Luiz Paulo Conde, Marcelo Crivela, Denise Frossard, Jorge Bittar, Jandira Feghali e talvez Sérgio Cabral Filho. Se de fato esses candidatos concorrerem, certamente teremos segundo turno, com Cesar favorito. Marta é mulher, grã-fina e polêmica em algumas decisões. A população fica meio tonta: ela chega de channel, sapato superchique e pisa na lama. Está fazendo uma prefeitura de vitrine em São Paulo, com bons e maus momentos. A diferença em São Paulo é o quadro pobre de candidatos, não há nomes fortes. Se Paulo Maluf concorrer, é bom para o PT porque aumentam as chances de vitória da Marta no segundo turno.