A torcida feminina terá de se conformar: a cada ano, os melhores nadadores do mundo cairão na água com mais roupa. A sunga, que até as Olimpíadas de Barcelona em 1992, era o traje oficial nas provas de nado, ficou obsoleta. Foi substituída por uma espécie de macacão colante, que confere ao nadador uma pele similar à de um tubarão, o animal aquático mais veloz do planeta. A inovação, da Speedo, promete ser a grande sensação das Olimpíadas de Atenas deste ano. Batizado de FastSkin II, o uniforme tem a mesma aspereza da pele de um tubarão, o que diminui a fricção da água no corpo do atleta. O tecido imita os dentículos dérmicos, um tipo de escama capaz de quebrar as marolas formadas pelo deslocamento e aumentar a velocidade do peixe ou, no caso, do nadador.

O primeiro modelo FastSkin foi lançado nas Olimpíadas de Sydney em 2000. Quatro anos depois, a Speedo uniu à textura de pele de tubarão um tecido chamado FlexSkin, que confere maior flexibilidade aos movimentos. Os músculos ficam comprimidos, o que diminui a trepidação da pele durante o nado. “Experimentei o FastSkin I e achei apertado demais”, comenta Fernando Scherer, o Xuxa, recordista sul-americano nos 50 metros livres. “Depois dos 30 fica difícil se acostumar com essas novidades”, brinca o nadador, de 29 anos. Já Gustavo Borges, o maior medalhista brasileiro, diz que cada atleta se sente mais à vontade em um tipo de uniforme. “Prefiro usar apenas a calça. Me sinto mais confortável”, diz.

Uma das estrelas do uniforme da Speedo é o americano Michael Phelps, que aos 18 anos é a grande promessa dos jogos de Atenas. A Speedo ofereceu-lhe uma proposta tentadora. Se ele conquistar sete medalhas de ouro, façanha realizada por Mark Spitz nos jogos de Munique, em 1972, ganha um bônus-incentivo de US$ 1 milhão, desde que participe das provas vestindo o FastSkin II. Phelps não será o único a usar o uniforme. “A Speedo fornecerá um FastSkin II para cada atleta que obtiver marca para ir às Olimpíadas”, explica o diretor de marketing, Roberto Jalonetsky.

Os uniformes dos atletas brasileiros são fornecidos pela Olimpikus, patrocinador oficial do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Para as competições de natação, prevalece a preferência de cada nadador.“ A Federação Internacional de Natação (Fina) permite que na mesma prova haja atletas de sunga e de uniforme até o tornozelo”, explica José Roberto Perillier, do COB. Nas disputas mundiais há nadadores com todo tipo de traje. As marcas mais procuradas são a Arena, a Adidas, a TYR e a Speedo, que competem na tecnologia. A TYR acaba de lançar o Aqua Shift, macacão com pequenas tubulações que dão ao corpo um formato rugoso, facilitando o deslize na água. Mas ainda há quem prefira a boa e velha sunga. O russo Alexander Popov, recordista mundial nos 50 metros livres, disse que não há nada melhor que a própria pele para competir. Já o australiano Ian Thorpe, a sensação da última Olimpíada, recorreu ao FastSkin I para merecer o apelido de “homem-torpedo”.

Para agradar a gregos e troianos, o FastSkin II terá sete modelos: corpo inteiro – o escolhido por Michael Phelps –, apenas a calça, macacão com braços de fora ou meia-perna. A opção depende do gosto do nadador e da prova. As que mais demandam uniformes high-tech são as de velocidade. Diversas inovações já foram testadas para reduzir o atrito, a força da contracorrente formada durante a locomoção do nadador, ou compensar a aerodinâmica do corpo humano. Ainda assim, o ser humano está bem longe do recorde de nado no mundo animal. O mais veloz entre os tubarões, o mako, é o recordista mundial de nado livre. Sua velocidade chega a 45 quilômetros por hora.