Atribui-se ao ex-banqueiro Magalhães Pinto, velha raposa mineira, a frase de que "política é como nuvem". A cada olhar, enxerga-se um novo formato. No dia 5 de outubro, quando foram contados os votos do primeiro turno das eleições municipais, o governador paulista José Serra despontava como um nome imbatível na disputa presidencial de 2010. O serrismo venceria em São Paulo, com Gilberto Kassab, e no Rio de Janeiro, com Fernando Gabeira. Em Belo Horizonte, que foi o laboratório de uma aliança inédita entre PT e PSDB, o governador mineiro Aécio Neves, concorrente de Serra, corria um sério risco de sair derrotado. Passaram-se 15 dias, veio o segundo turno, e o desenho da nuvem mudou. Serra levou São Paulo, mas perdeu no Rio e em Belo Horizonte. O jogo, que parecia caminhar para uma goleada, terminou num pálido um a zero.

Ainda assim, há quem aponte o governador paulista como o grande vencedor da disputa municipal. Já é quase certo que, no PSDB, a vez será dele – e não de Aécio. Além disso, seu barco poderá ser empurrado pelos ventos da turbulência econômica global, que colocam em risco o sucesso de uma candidatura petista. Com um aguçado timing político, Serra já tem dado seus primeiros palpites, aqui e acolá, sobre como o governo deve responder à crise. Dito isso, é bem prematuro assumir que ele se tornou invencível. Serra ainda não construiu um discurso e suas fragilidades, a começar pela falta de carisma, são maiores do que parecem.

José Serra parece fortalecido, mas Aécio Neves terá mais cartas na manga até 2010

O mineiro Aécio, por sua vez, tem várias cartas na manga. Sua estratégia inicial será sabotar o serrismo dentro do próprio PSDB, propondo prévias no ninho tucano. Ele deve perder a briga, mas Serra sairá desgastado. Depois disso, o caminho inevitável seria sua filiação ao PMDB, que se consolidou como o maior partido do País e terá de ter candidato próprio em 2010 – Aécio, a quem vários caciques peemedebistas já estendem o tapete vermelho, é o único nome viável. A seu favor, pesam ainda a juventude, o sorriso fácil e um certo cansaço do eleitor com a hegemonia paulista na política nacional. Mas o mais importante é a sinalização de que ele governará com o PT. Sem um candidato forte, ao partido do presidente Lula restaria uma única alternativa: embarcar na canoa mineira. No fim da história, o plano "Lulécio" tende a ser mais forte do que o serrismo.