Ao pintar de negro o corpo da modelo branca americana Ondria Hardin, no editorial de moda intitulado “Rainha Africana”, na edição deste mês, a revista francesa “Numéro” caiu em uma armadilha que ela própria montou. Se a imagem foi publicada sem a intenção de causar polêmica para auto-promoção, e tão somente para “homenagear a beleza africana” e valorizar o “trabalho artístico” do fotógrafo Sebastian Kim, que pretendia miscigenar democraticamente duas culturas, como os próprios responsáveis pelo editorial garantem, eles poderiam ter contratado uma modelo de fato negra para a realização do ensaio ou avisado o leitor sobre o artifício da pintura de Ondria. A revista preferiu, no entanto, omitir essa informação, e aí tornou-se vulnerável às acusações de racismo que partiram do mundo da moda na Europa e, sobretudo, nos EUA. Pesa a favor dessa hipótese a reincidência de “Numéro”: há três anos ela valeu-se do mesmo truque e apresentou como negra a também branca modelo Constance Jablonski.