Não será difícil para os militantes de a Rede conseguir as 500 mil assinaturas necessárias para a formação do novo partido liderado pela ex-senadora Marina Silva. Difícil será fazer a diferença no Congresso. Durante a campanha de 2010, quando ainda nenhum simpatizante sonhava com os 20 milhões de votos obtidos na eleição presidencial, fizeram uma pergunta incômoda à senadora: “Se a senhora ganhar, com que base de alianças governará? Como pretende compor a maioria?”

Tanto naquele momento quanto hoje, o fato de a Rede entrar na política com ambições diferentes das dos outros partidos, menos comprometidas com o poder e mais com avanços e soluções duradouras para o Brasil, não a exime de responder às aflições diárias dos brasileiros – como inflação, educação, saúde, corrupção, infraestrutura degradada, responsabilidade fiscal, fragmentação partidária, câmbio e taxa de juros – e tampouco a isenta de conviver com instituições frágeis e negociar com lideranças fisiológicas cujos costumes pouco democráticos deseja combater.
As sociedades têm os partidos que conseguem ter.

A agenda pós-materialista dos setores mais informados da população e dos jovens profissionais liberais ativos nas comunidades virtuais atualiza o Brasil com o desafio de conciliar a justiça social com o desenvolvimento sustentável em um mundo nada monotemático. Já era hora. O atual uso dos recursos naturais num país maciçamente urbanizado, num planeta de sete bilhões de pessoas a caminho de nove bilhões, não se sustenta.

A degradação do ar, da água e do solo não respeita fronteiras. É preciso descobrir um equilíbrio entre a economia e o ambiente. Há decisões difíceis a tomar.Para tanto é mais do que recomendável alguma modéstia. Garantir o direito de todos a um nível de vida razoável, que implica acesso ao consumo, sem exaurir os recursos necessários para fazer a economia crescer, é o desafio mais difícil do mundo. Muitos já procuraram uma “terceira via” ou um “caminho do meio”. Os Partidos Verdes europeus têm 30 anos de estrada e não consta que tenham reinventado a roda. Talvez a política não possa ser reinventada, mas tão somente exercida com escrúpulos, sensibilidade, caráter e espírito público – o que já seria muito bom.

A sociedade precisa de novas lideranças e novos consensos para ultrapassar a polarização PT-PSDB e fazer a democracia avançar. Todos torcemos para que a Rede revele políticos competentes com qualidades demonstráveis em longo prazo, jamais derivadas de algum suposto monopólio de virtudes ideológicas. A propósito, há uma compreensiva exaustão com promessas moralistas, fervores éticos e arroubos fundamentalistas. Lembram os filmes reprisados infinitamente nos canais de tevê a cabo. A sociedade está incomodada com a política, desconfiada dos seus salvadores e também dos críticos de poltrona.

O ceticismo dominante parece à espera da ocasião em que os próximos arautos da moralidade irão derrapar na curva. Mas alguém tem que fazer alguma coisa. 

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