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DE OLHO NA REELEIÇÃO
Ao lado de Lula, durante festa em comemoração aos 10 anos
do PT no poder, Dilma Rousseff se colocou como candidata

Antecipada em mais de um ano, a campanha presidencial de 2014 foi para a rua na última quarta-feira 20 num tom enviesado. Sem apresentar propostas que os diferenciassem aos olhos do eleitor, a presidenta Dilma Rousseff, anunciada como candidata à reeleição durante a festa de comemoração dos 10 anos do PT no poder, e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato tucano ao Planalto, descreveram em seus discursos um País que vai do desastre “neoliberal” ao fracasso “petista”. Da tribuna do Senado, Aécio desfiou 13 argumentos destinados a desqualificar a gestão do PT. “Os pilares da economia estão em rápida deterioração, colocando em risco avanços que o País levou anos para implementar, como a estabilidade da moeda. A grande verdade é que, nestes dez anos, o PT exaure a herança de FHC”, disse o tucano. Horas depois, em evento do PT na capital paulista, Dilma respondeu dizendo ouvir na oposição “ecos dissonantes, com timbres de atraso”. Na mesma linha adotada pelo oponente, tentou desmontar a tese de que o governo tucano construiu as bases econômicas que permitiram os avanços sociais alcançados na gestão do PT. “Nós não herdamos nada. Nós construímos”, devolveu Dilma.

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MIRANDO A PRESIDÊNCIA
Da tribuna do Senado, Aécio Neves tentou resgatar as conquistas do governo FHC

Desde 1967, quando o intelectual francês Guy Debord (1931-1994) criou a expressão “Sociedade do Espetáculo” é recorrente entre os cientistas sociais a analogia da política com o teatro. Para Debord, em tempos dominados pela imagem, o indivíduo passa a ser e a viver alienado em um mundo no qual a ficção se mistura à realidade, e vice-versa. Sem recortes, a política é assim. Uma realidade em que os eleitores surgem como meros espectadores de cenas muitas vezes fictícias protagonizadas por políticos. Na quarta-feira 20, PT e PSDB deram corpo à teoria do filósofo francês. Nesse embate, o PT, em cartilha batizada “O decênio que mudou o Brasil” produzida pela Fundação Perseu Abramo, classificou a década em que o partido esteve à frente do governo federal, 2003 a 2013, como indutora do crescimento e geração de empregos e minimizou as realizações do governo tucano, 1995-2002. Já o PSDB afirmou que a administração FHC ergueu os pilares que possibilitaram o País desenvolver e acusou o PT de destruir o seu legado. A realidade é distinta. Nos últimos 18 anos sob a gestão de PSDB e PT, o Brasil avançou. As bem-sucedidas políticas dos dois períodos transformaram a vida de milhões de brasileiros. Fernando Henrique herdou um quadro econômico deteriorado. Inflação desenfreada, desconfiança internacional, empregos em declínio, investimentos minguados, mas consolidou no País uma moeda forte, que permitiu que os brasileiros controlassem suas despesas e planejassem o futuro. A estabilidade econômica estabeleceu os alicerces fundamentais para sustentar o crescimento e os avanços sociais da era Lula e Dilma. Sob o PT, o Brasil acumulou 18,5 milhões de novos postos formais de trabalho, a renda média dos trabalhadores aumentou em 20,8%, o salário mínimo cresceu 70,7%, acompanhado da queda da desigualdade de renda em 11,4% e a pobreza absoluta em 37,3%. Mas, alheios à realidade dos fatos, os adversários na corrida presidencial para 2014, da maneira mais conveniente para cada um deles, preferiram avocar para si a paternidade das políticas públicas e econômicas que nortearam os progressos do Brasil nas últimas décadas. Para analistas, porém, os projetos de PSDB e PT se complementam. O professor de economia da PUC-Rio, José Márcio Camargo considera “uma bobagem” contrapor um modelo de política neoliberal a um modelo desenvolvimentista. “No fim dos anos 80, o Brasil era desorganizado, com inflação de mais de 1.000% ao ano e extremamente fechado. A revolução começou em 1990 e foi até 2006. Até meados da década passada, os governos eram muito parecidos. O resto é retórica política”, diz Camargo. Ernesto Lozardo, professor de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, também reconhece que os feitos de PSDB e PT devem ser analisados em conjunto. “A economia mundial cresceu muito nos anos Lula e, com a economia arrumada, seu governo se beneficiou disso. Em dez anos, o PT tirou 36 milhões de pessoas da miséria e as inseriu na economia. É como tirar da miséria uma Espanha inteira”, afirma Lozardo.

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Em meio ao debate comparativo com o PSDB, PT e partidos da base aliada deram início ao enfrentamento direto com a oposição e lançaram a campanha de reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Coube ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ditar o tom das comemorações ao criticar nominalmente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidenciável tucano, senador mineiro Aécio Neves. Em uma fala repleta de ironias, o ex-presidente Lula mandou um recado à oposição ao declarar que os adversários “podem juntar quem quiser” que não irão derrotar Dilma nas eleições presidenciais de 2014. “Eu não vou responder a eles. A resposta que o PT deve dar a eles é que podem se preparar e juntar quem eles quiserem, vamos dar como resposta a reeleição da Dilma em 2014. É essa a consagração da política do Partido dos Trabalhadores”, afirmou Lula. Da próxima quinta-feira 28 até o mês de maio, Lula percorrerá uma dezena de cidades inaugurando uma série de seminários em que o PT tornará a exaltar seus dez anos à frente do governo. Algumas viagens serão realizadas ao lado de Dilma Rousseff, com o intuito de turbinar a sua pré-candidatura à reeleição. Enquanto não combina sua agenda com a de Lula, Dilma fará um périplo pelo Nordeste. Na terça-feira 26, estará ao lado do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, na inauguração de uma barragem no Ceará. Em seguida, em data ainda a ser confirmada, os dois também irão à Paraíba. Do lado tucano, Aécio participará na segunda-feira 25, em Belo Horizonte, da abertura de seminário do PSDB ao lado de Fernando Henrique Cardoso. Em março, acompanhará em uma palestra o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB). Os eventos têm o objetivo de manter o senador na mídia até a convenção nacional do PSDB marcada para 18 de maio. O giro pelo País de Aécio, no entanto, só será intensificado no início de junho, depois da exibição das inserções do PSDB na tevê.

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Enquanto PT e PSDB se digladiam, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, outro nome com pretensões eleitorais para 2014, corre por fora. Na quinta-feira 21, um dia depois da antecipação do debate eleitoral por tucanos e petistas, Campos pediu que não se “eleitorize” tanto a política brasileira e sugeriu que não se mantenham as “velhas rinhas”, numa referência ao antagonismo PT x PSDB. Disse ainda que o Brasil precisa de “um novo debate”. As declarações foram dadas durante cerimônia com 184 prefeitos pernambucanos, no seminário “Juntos por Pernambuco”, no município de Gravatá, a 80 quilômetros da capital do Estado. Apesar de seu discurso, no entanto, o evento acabou ganhando ares de pré-candidatura. Durante seu pronunciamento, Campos foi interrompido seis vezes por aplausos e aclamado aos gritos de “presidente”.

Foto: Marcos Alves/Ag. O Globo; Adriano Machado
FOTO: CELSO JUNIOR/AE; Marco Ankosqui; Adriano Machado