O uso de aparelhos para promover resfriamento do corpo e até o congelamento de células é um recurso consolidado para remover pintas e lesões cutâneas e também na cardiologia e neurologia. Durante paradas cardíacas ou acidentes vasculares cerebrais, o resfriamento diminui a atividade metabólica das células nervosas, o que pode tornar mais fácil para as células cardíacas e cerebrais sobreviverem ao evento. Seguindo essa linha de raciocínio, na semana passada, pesquisadores da Universidade de Washington (EUA) anunciaram resultados promissores de um estudo que resfriou em até quatro graus negativos o cérebro de cobaias que sofreram lesões traumáticas na cabeça. “Os traumas são a principal causa da epilepsia adquirida em adultos jovens e, em muitos desses casos, as crises não são controladas com medicação”, explicou Matthew Smyth, líder do trabalho. Enquanto um grupo de animais recebeu fones de ouvido com capacidade de resfriamento, outro colocou os mesmos fones, mas sem esse poder. Os ratos cujos cérebros foram resfriados apresentaram apenas uma convulsão breve quatro meses após terem sofrido uma lesão cerebral. Já os outros tiveram quadros mais graves. “Se confirmarmos a eficácia da refrigeração em humanos, o método pode se transformar em uma maneira segura e relativamente simples de prevenir convulsões e até evitar a epilepsia nesses pacientes”, disse Smyth. O trabalho foi publicado na revista “Annals of Neurology”.

Outra área em que há progressos com a chamada crioterapia é o controle da dor. O Instituto Nacional dos EUA está financiando estudos para avaliar o potencial do método de aliviar dores no joelho de pacientes com osteoartrite. Neste caso, agulhas conectadas a tubos de gás argônio são inseridas logo abaixo da pele. Quando o gás é liberado, surgem cristais de gelo que cauterizam vasos sanguíneos e impedem a nutrição dos nervos, o que reduz a transmissão dos sinais de dor.

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OPÇÕES
Alfer (acima), do hospital Albert Einstein, usa o método contra tumor de rim
e de próstata. Ricci, do Icesp, prepara estudo sobre câncer de mama

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Mas é na luta contra o câncer que se vê o maior esforço para ampliar o emprego da técnica. Há progressos contra tumores de próstata, rim e diversos experimentos para avaliar seu desempenho contra o câncer de mama. Nos EUA, o urologista Fernando Kim, da Universidade do Colorado, aplica a crioablação (feita com as agulhas e equipamentos ultrassom) contra tumores na próstata e nas suas metástases. Para Kim, um dos pioneiros no estudo da técnica, uma das vantagens sobre a cirurgia tradicional é reduzir as chances de incontinência urinária e impotência. Ele também trata tumores localizados em pontos específicos, o que é uma tendência chamada tratamento focal.

Em São Paulo, o método é indicado pelo urologista Wladimir Alfer, do Hospital Albert Einstein, em casos de falhas no tratamento do câncer com radioterapia e para idosos que não querem conviver com um tumor de próstata, apesar de não haver risco de virem a morrer por causa dele. Alfer também usa o recurso para metástases no rim e no fígado. Nestes casos, o paciente entra em um tomógrafo para que as agulhas sejam inseridas com precisão milimétrica. “Hoje a técnica é mais segura por causa do uso de aparelhos de imagem para monitorar a inserção das agulhas e destruição das células”, diz o especialista.

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O efeito das agulhas geladas no câncer de mama está em avaliação em centros como a Universidade Cornell, nos EUA, e no Japão, onde foram tratadas até agora no Kameda Medical Center quatro pacientes com a doença em fase inicial. No Instituto do Câncer de São Paulo, o mastologista Marco Ricci está estruturando um estudo para avaliar a eficácia da remoção com crioablação de tumores de mama de até um centímetro e meio de mulheres idosas sem condições de fazer uma cirurgia. O equipamento para realizar o procedimento já chegou. Segundo o especialista, que avalia outras técnicas com a mesma finalidade, a criocirurgia pode alcançar 95% de chances de eliminar completamente tumores pequenos de mama. “É um método promissor, porém mais pesquisas são necessárias. Mas isso não deve demorar muito. O futuro é investir no estudo de estratégias para diminuir o papel da cirurgia”, diz o cirurgião Alfredo Barros, coordenador do núcleo de mastologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Fotos: Rafael Hupsel e Kelsen Fernandes/Agência Istoé


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