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Convidado a ministrar aulas sobre cultura brasileira na Universidade de Estudos Estrangeiros de Kioto no ano letivo de 2011, o artista Marco Giannotti chegou ao Japão em abril, no florescer da primavera e das cerejeiras. Mas também um mês depois do terremoto e do tsunami que levaram ao acidente nuclear em Fukushima, no norte do país. Os fenômenos inspiraram a escritura de um texto sobre as dimensões de estabilidade e efemeridade “em uma terra que treme”. Em “Contemplando Pedras em Kioto”, o artista contrapõe a fugacidade do jardim de cerejeiras – a florada dura apenas duas semanas – à perenidade do jardim de pedras de Ryoan-ji, fundado em 1450 em Kioto. Comparado pelo artista a uma instalação de arte contemporânea, o jardim de pedras é colocado como “exemplo da capacidade japonesa de procurar estabilidade quando tudo o que é sólido parece se desmanchar no ar”.

O estudo é o primeiro de uma série de artigos que compõem “Diário de Kioto”, que será lançado em 21 de fevereiro no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. O livro traz uma compilação de textos publicados por Giannotti em “O Estado de S.Paulo”, em 2011. Eles dividem as páginas com fotografias e reproduções de colagens realizadas no Japão com papel washi, feito a partir de folhas de amoreira.

Repletos de referências e citações literárias, os escritos mostram que, para ministrar o curso de cultura brasileira no Japão, Giannotti, que é professor de pintura na Universidade de São Paulo, estudou profundamente a cultura japonesa. “A descoberta de grandes escritores como Kawabata, Tanizaki e Mishima me permitiu conhecer um pouco mais os costumes japoneses e sua visão de mundo”, escreve ele. Seus artigos são rápidas pensatas, que chamam a atenção para aspectos interessantes não apenas da cultura local, mas dos cruzamentos entre Oriente e Ocidente, ou Brasil e Japão.

Paisagismo e arquitetura são dois eixos que estruturam textos, colagens e fotografias. Mas é nas colagens, usadas pelo artista como veículo de uma filtragem intimista de toda a sua experiência, que vem à tona a grande expressão da viagem. É nas colagens que toda a leveza do papel e toda a perenidade das pedras se fazem notar e vibrar.