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INDEFINIÇÃO Hillary com Obama, e Shannon

As vésperas de completar um ano no poder, o presidente americano Barack Obama ainda não visitou o Brasil, tampouco a secretária de Estado, Hillary Clinton, chefe da diplomacia americana. O motivo para a ausência de ambos é um só: o Senado americano, por disputas internas com a Casa Branca, protela há seis meses a confirmação do nome de Thomas Shannon para assumir a embaixada dos Estados Unidos em Brasília. Acéfala, a representação diplomática não tem poderes para articular as visitas de Obama e Hillary, agendadas e desmarcadas várias vezes nos últimos meses. O mais grave é que, sem a presença do novo embaixador, a agenda política e comercial entre os dois países fica trancada. E temas polêmicos, como a crise em Honduras, aumentam a tensão bilateral.

Em razão do vácuo diplomático, foram adiadas “sine die” reuniões de fóruns bilaterais, como aconteceu na área de comércio e de biocombustíveis. Também ficou no ar a assinatura de um acordo de cooperação econômica. “Acho que os Estados Unidos precisam resolver rapidamente a indicação do novo embaixador para que as linhas tradicionais de comunicação sejam reabertas”, avalia Riordan Roet, diretor do Programa de Estudos Latino-Americanos da Johns Hopkins University. Para o historiador Virgílio Caixeta Arraes, da UnB, com a demora fica a impressão de que o Brasil e a América Latina “não estão entre as prioridades da política externa americana”.

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O fato é que o veto ao nome de Shannon nada tem a ver com o Brasil. Ao justificá-lo, o senador republicano George Le Mieux questionou a “postura não muito dura” de Shannon em relação a Cuba, no tempo em que ele era subsecretário para as Américas. Considerando o peso eleitoral da comunidade cubano-americana da Flórida, o argumento de Le Mieux é forte, mas o que está por trás do veto são questões mais atuais. Na verdade, a indicação de Shannon está sendo usada pela oposição republicana como instrumento de barganha para a aprovação da nova política de saúde e também na discussão sobre a presença das tropas no Iraque e no Afeganistão.

Mas a disputa partidária poderá trazer prejuízos econômicos para os EUA. Bernard Aronson, ex-subsecretário para as Américas, enviou uma carta para pressionar Le Mieux a aprovar Shannon, argumentando que a ausência do embaixador no Brasil enfraquece o lobby da Boeing na concorrência para a venda de 36 caças de combate à Força Aérea Brasileira. O F-18 Super Hornet concorre com o Rafale francês e o Gripen sueco. “Isso vai custar milhares de empregos nos EUA”, afirmou Aronson. Fontes americanas garantem que, uma vez confirmado, Shannon estará em Brasília em 48 horas.

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Especialista em América Latina e fluente em português, Shannon serviu no Brasil na década de 1990 e é considerado um interlocutor privilegiado. ISTOÉ obteve com exclusividade as respostas de Shannon ao questionário feito pelo senador Richard Lugar, líder dos republicanos na Comissão de Relações Exteriores do Senado. Além de classificar o Brasil como “global player de importância crescente”, com o qual os EUA têm relação “ampla e sofisticada”, o embaixador defende os investimentos e a tomada de ações conjuntas na área de meio ambiente. E revela o interesse americano no pré-sal. “A descoberta dessas reservas pode ajudar a estabilizar os mercados mundiais”, representando “uma alternativa ao Oriente Médio e zonas conflituosas”.

O embaixador ressalta que muitas empresas americanas “estão envolvidas” nos esforços para explorar o pré-sal e o Eximbank recentemente disponibilizou US$ 2 bilhões para apoiar essas ações. “O Brasil promete ser um grande fornecedor de energia nos próximos anos e líder nos esforços para garantir a segurança energética regional”, diz Shannon, que ainda destaca o papel brasileiro em iniciativas de ajuda “às democracias frágeis” da região, como Honduras. Apesar das explicações do embaixador, o líder republicano questiona Shannon sobre o caso “Sean Goldman”, o menino trazido pela mãe ao Brasil cuja guarda é exigida pelo pai americano na Justiça. Um relatório do Departamento de Estado informa que há 50 outros casos semelhantes ao de Sean. “Vamos continuar insistindo numa resolução que garanta o retorno de Sean aos EUA”, promete Shannon. Pelo visto, o Executivo dos EUA percebe o Brasil de maneira bem diferente do Legislativo. Reduzir esse abismo é tarefa urgente, a começar pela aprovação de Shannon.

O Nobel da paz vai à guerra

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CONTROVÉRSIA Obama é premiado após aumentar ofensiva no Afeganistão

No comando de um país mergulhado em duas guerras – no Iraque e no Afeganistão –, o presidente Barack Obama protagonizou na quinta-feira 10 uma situação inusitada em Oslo, a capital da Noruega. Recebeu o Nobel da Paz fazendo uma veemente defesa da força como instrumento para a pacificação. “Ajudamos a manter a paz com o sacrifício de nossos soldados e a força de nossas armas”, destacou Obama, referindo-se às intervenções bélicas americanas das últimas décadas. Na sequência, porém, afirmou que a guerra sempre traz a tragédia humana e nunca é gloriosa.

Ao lembrar antigos ganhadores do Nobel da Paz, como Mahatma Gandhi e Martin Luther King, Obama reforçou de novo a postura belicista: “O amor de Gandhi e Luther King deve ser o norte de nossa jornada, apesar de nem sempre ser possível aplicar a não violência.”

O discurso é coerente com a estratégia adotada nove dias antes, em relação à Guerra do Afeganistão, que já dura oito anos. Nas próximas semanas, mais 30 mil soldados americanos começam a desembarcar em Cabul. Somados à tropa já estacionada em território afegão, os Estados Unidos passarão a contar com 100 mil homens para o combate aos militantes do Talebã.

A escalada da ofensiva tem data certa para terminar: julho de 2011. A estratégia de Obama não agradou. Seus adversários acreditam que marcar data de retirada enfraquece a ofensiva. Já os aliados desconfiam de qualquer iniciativa em parceria com o presidente afegão, Hamid Karzai, suspeito de fraudar as eleições que o mantiveram no poder e de comandar uma rede de corrupção. Em Oslo, a premiação de Obama também causou polêmica. Manifestantes lembraram ao mais recente laureado com o Nobel da Paz que ele teria de fazer por merecer o prêmio.


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