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CAOS
Torcedores encontram lanchonetes fechadas e alagamento
na reabertura do Mineirão: novos e velhos problemas

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Quando o Brasil foi escolhido para sediar a Copa do Mundo de 2014, autoridades definiram aquele momento como um divisor de águas. Para muitos especialistas, a era dos torcedores tratados com descaso em estádios sem infraestrutura seria, enfim, superada para dar lugar a arenas construídas com o que há de mais moderno. Nelas, os frequentadores seriam tratados como clientes e contariam com facilidades como assentos numerados, amplo estacionamento, banheiros decentes e opções de bares e restaurantes para diferentes gostos. A julgar pelo que se viu no domingo 3, na reinauguração do Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, em Belo Horizonte, essas transformações estão muito longe de se tornar realidade. As 59 mil pessoas que foram à reabertura do estádio, na partida em que o Cruzeiro venceu o Atlético por 2 a 1, encontraram novos e velhos problemas – e isso depois de obras de modernização que consumiram R$ 670 milhões e duraram dois anos e sete meses. O caos encontrado pelos torcedores desperta várias questões. A primeira delas é saber até que ponto as obras feitas às pressas para atender aos prazos impostos pela Fifa não podem colocar em risco a segurança dos torcedores. No Mineirão, como o acesso estava estreito demais, houve empurra-empurra. É de imaginar, portanto, o perigo a que estavam expostos os torcedores se alguém caísse no chão e houvesse correria.

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A pressão para a inauguração dos estádios para a Copa tem sido grande. Há alguns dias, o secretário-geral da Fifa, o francês Jérôme Valcke, estabeleceu abril como o limite para a abertura das arenas que vão receber os jogos da Copa das Confederações, que serão realizados em junho como evento-teste para o Mundial. A correria, portanto, será grande nos próximos dias. As arenas de Brasília, Salvador e Recife, além do Maracanã, no Rio de Janeiro, estão atrasadas – e não há garantias de que vão conseguir cumprir todas as exigências da Fifa no prazo. As críticas à inauguração do Mineirão fizeram o governador mineiro, Antonio Anastasia (PSDB), mudar publicamente de postura. Depois de comemorar a inauguração do segundo estádio “concluído” a ser usado na Copa, atrás apenas do Castelão, no Ceará, resolveu adotar uma postura crítica contra o concessionário. Na segunda-feira 4, por meio da  Secretaria de Estado Extraordinária para a Copa do Mundo (Secopa), anunciou uma multa de R$ 1 milhão sobre a empresa Minas Arena. A medida é oportuna, mas não aplaca a frustração daqueles que compareceram ao Mineirão.

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Dificuldades para comprar ingresso, acesso confuso ao estádio, banheiros alagados, falta de luz e lanchonetes fechadas foram alguns dos cartões de boas-vindas oferecidos pelos gestores do Mineirão. “Tivemos problemas nos sistemas responsáveis pela geração de ingressos, mas tudo foi detectado e sanado”, limitou-se a declarar Ricardo Barra, diretor-presidente da Minas Arena. Por meio de uma parceria público-privada (PPP), a empresa foi a responsável pela reforma do estádio estadual e terá a concessão para gerenciá-lo e explorá-lo comercialmente por 25 anos. “Nos próximos jogos, não teremos essa situação novamente”, completou o executivo. Quem esteve no estádio ficou com a sensação de que ele foi inaugurado às pressas e que muita coisa foi feita na base do improviso, para que Minas fosse capaz de atender às demandas da Fifa e cumprir os prazos definidos pela entidade máxima do futebol. “Faz décadas que vou ao Mineirão e nunca vi nada igual àquilo”, diz o advogado Leonardo Soares Tito, que ingressou na Justiça contra a Minas Arena e o Cruzeiro, mandante do jogo. “Foi um vexame, porque inauguraram um estádio sem estar concluído.” Espera-se que os erros sirvam de alerta.

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Fotos: SAMUEL COSTA/JORNAL HOJE EM DIA; Leo Fontes /O Tempo; Beto Magalhães/EM/D.A Press; Fernando Gomes/Agência RBS