Confira cenas de filmes em que o rei é retratado:

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A FACE REAL
Rosto de Ricardo III reproduzido em plástico, o que só foi possível
graças a uma tomografia no crânio encontrado na Inglaterra

Deformado, sanguinário e disposto a fazer qualquer coisa pelo poder. Imortalizada por William Shakespeare, essa é a imagem que ficou de Ricardo III, o rei que governou a Inglaterra por apenas dois anos, entre 1483 e 1485. A descoberta da ossada do monarca, confirmada nesta semana pela Universidade de Leicester, reacendeu o interesse pelo estudo dessa controversa figura e pode ajudar a desvendar aspectos desconhecidos – e, talvez, mais bonificadores – de sua trajetória. O esqueleto havia sido encontrado em setembro de 2012, durante escavações em um estacionamento no terreno que abrigara a igreja franciscana de Greyfriars. Após comparar o DNA extraído da ossada ao de descendentes contemporâneos, os pesquisadores anunciaram tratar-se dos restos do rei.

“A pesquisa é importante por nos oferecer a oportunidade de estudar, com ciência de ponta, um indivíduo de alto status”, disse à ISTOÉ o arqueólogo Richard Buckley, líder do projeto. Para ele, a descoberta da curvatura no esqueleto provocada por uma escoliose é um dos aspectos mais interessantes da pesquisa. “Naqueles tempos, a doença poderia ter sido motivo de escárnio. Suportar isso diria muito sobre a sua força de caráter”, afirma o arqueólogo. Os próximos passos são estudar a arcada dentária e analisar a composição química dos ossos para levantar informações sobre a dieta, a saúde e as armas que feriram o rei em sua batalha mortal.

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CORES FORTES
Retrato de Ricardo III feito por artista desconhecido,
provavelmente produzido no século XVI

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Apesar da comemoração pela descoberta, há quem se incomode com o “carnaval” feito pela universidade. “Essa pesquisa não muda nossa visão sobre o passado”, diz Neville Morley, professor da Universidade de Bristol, em entrevista à ISTOÉ. O fato de Ricardo III ter sido morto durante uma batalha já era conhecido pelos historiadores. Outro ponto de controvérsia é a parte genética da pesquisa. A equipe de Buckley bateu o martelo sobre a identidade da ossada ao comparar seu código genético ao de dois descendentes de uma irmã do rei britânico. Os pesquisadores estudaram o chamado DNA mitocondrial. Esse código – diferente do DNA “normal”, o do núcleo das células – está presente dentro das mitocôndrias, estruturas celulares que “fabricam” energia para o corpo.

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O código genético de uma pessoa vem 50% do pai e 50% da mãe. Já o mitocondrial é herdado somente da genitora e é passado de mães para filhos sem alterações. Daí a opção de usá-lo como base de comparação. Mas ele não garante resultados infalíveis. “É possível encontrar códigos de DNA mitocondrial semelhantes em indivíduos sem parentesco”, diz Neville Morley. A pesquisadora Turi King, responsável pela área de genética do projeto, rebate: “Além do DNA, a localização, a datação por carbono, a idade da ossada, a escoliose e os ferimentos condizem com os registros sobre Ricardo III”. Ainda assim, outros pesquisadores recomendam cautela. “Antes de divulgar a descoberta, eles deveriam ter publicado um artigo revisado por colegas em uma revista científica de respeito”, defende a historiadora Mary Beard, da Universidade de Cambridge. Enquanto os acadêmicos se digladiam, o público segue aguardando curioso por mais respostas que estavam soterradas com Ricardo III naquele estacionamento.

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Fotos: Andrew Winning/REUTERS e TPG Images/Grupo Keystone


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