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O conceito de interatividade se faz atualmente inseparável das novas mídias. Mas, muito antes de ser associado à onda high-tech, o termo foi um dos postulados de uma prática artística em que o público era tão importante quanto o artista no contexto da obra e de sua criação. Isso é patente no trabalho do paraibano Genilson Soares. Atuante desde a década de 1960, participou do coletivo Equipe 3 – ao lado dos artistas Lydia Okumura e Francisco Iñarra –, conhecido por suas interferências lúdicas e carregadas de ironia. Exemplo de como a questão da interatividade aparece nas obras de Soares e da Equipe 3 está no episódio acontecido em 1971, quando o grupo realizou uma interferência inusitada no Museu de Arte Contemporânea do Ibirapuera, em São Paulo. Compostas de três painéis de madeira, cada uma das rampas possuía uma pintura de paisagem que camuflava as portas da instituição, dificultando a entrada das pessoas. O experimento exigia apuro na percepção do público, que tentava descobrir uma maneira de adentrar o espaço. Como se fosse um jogo de esconde-esconde, ali se questionavam os limites da arte: ela está fora ou dentro do museu?

Essa herança lúdica é apreciada ainda hoje em inúmeras obras interativas, em que a obra só se completa com a participação do público. A mostra “Playground/ Área de Jogo” transforma em um tabuleiro o espaço da galeria Jaqueline Martins, em São Paulo, colocando em diálogo a obra de Genilson Soares – que resgata o projeto de uma instalação concebida na década de 1970 – com o trabalho de dois artistas mais jovens, Daniel Nogueira e Marssares. Conhecido por trabalhar no âmbito da performance e da arte sonora, Marssares apresenta no piso térreo da galeria uma proposta imersiva na qual o corpo do visitante é fundamental para o acontecimento da obra. Através do uso de lâmpadas fluorescentes e amplificadores que emitem uma frequência sonora, mudanças acontecem no ambiente quando o visitante entra na sala. Nogueira também ocupa o espaço com interferências luminosas na arquitetura com o propósito de evidenciar estruturas escondidas do espaço da galeria (foto), criando um jogo artístico que depende totalmente da observação do público.