Márcia X – Arquivo X/ Museu de Arte Moderna do Rio/ até 14/4
Tracey Emin – You Don’t Believe in Love But I Believe in You/ White Cube São Paulo/ até 23/2

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MELANCOLIA
“Thinking of You”, de Tracey Emin, desenho realizado
a partir de fotografia que ela tirou de si mesma

A carioca Márcia X começou a carreira artística em 1980, pesquisando a linguagem da performance. Ao longo de 25 anos de atividade, se manteve à margem das convenções e penetrou em temas tabus como sexualidade e religiosidade, sendo por isso seguidamente censurada e suscetível a cortes de participação em salões e instituições culturais. Radical, precursora e visionária são alguns dos termos usados para adjetivar a personalidade e a obra de Márcia X.

A inglesa Tracey Emin é um dos nomes mais celebrados da geração de artistas britânicos surgidos nos anos 1990. Com uma obra de temática sexual e autobiográfica, de atitude provocativa, a artista é frequentemente associada a uma nova arte feminista. A ela, a imprensa internacional se refere como visionária, polêmica, radical, selvagem, sensacionalista. Márcia X e Tracey Emin são duas artistas que gritam seus segredos e confissões em voz alta. Sumidades do erotismo feminista e da performance, Márcia X ganha retrospectiva no MAM do Rio e Tracey Emin encerra temporada em São Paulo, na recém-inaugurada White Cube.

Na exposição “You Don’t Believe in Love But I Believe in You”, na galeria britânica agora sediada em São Paulo, o feminismo de Tracey Emin se pronuncia no uso de técnicas manuais, como o desenho e o bordado, para “fins radicais”. Nas diversas séries em exibição, ela se autorretrata em cenas de masturbação e resignação melancólica. O amor, ela declara sempre, é seu grande tema. Mas o erotismo é a linguagem. E esses trabalhos recentes remetem a outros clássicos da arte erótica universal, pintados por Picasso e Egon Schiele.

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RADICAL
Colagem de Márcia X revela sobreposição
do sagrado e do profano na obra da artista

Se Tracey Emin destila um erotismo embebido em melancolia, Márcia X pratica um erotismo explosivo e bem-humorado, que se equilibra na fronteira entre o sagrado e o profano. “Desenhando com terços” é um desses trabalhos com potencial de pólvora acesa, em que, vestindo uma camisola branca, a artista usa 400 terços para realizar desenhos de pênis no chão. A obra, censurada no CCBB Rio, pertence à série Fábrica Fallus, que a artista desenvolveu até sua morte, em 2005, por câncer.

Hoje ela está entre as 60 obras que integram sua retrospectiva no MAM Rio, além do arquivo restaurado e organizado de memórias e documentos da artista. A restauração se deu graças ao Prêmio Procultura de Estímulo às Artes Visuais da Funarte. Ao final da mostra, todos os trabalhos serão doados ao museu. “Realizar esta exposição e trazer para a coleção do MAM este acervo de Márcia X é um fato a ser comemorado”, afirma Luiz Camillo Osorio, curador do MAM Rio. “Abrigar estas obras e proposições em nossa coleção é um convite à reflexão institucional, a pôr em questão formas convencionais de catalogação, conservação e exposição.”