07/02/2013 - 23:59
PAI CORUJA
Willis gosta de dar atenção às quatro filhas:
“Meninos não querem ser protegidos”
Bruce Willis já fez de tudo em Hollywood: comédias, ficções científicas, filmes de suspense e até produções cult. Mas continua sendo conhecido como um dos maiores astros de ação, mesmo estando prestes a completar 58 anos no dia 19 de março. Em excelente forma física (com 95 quilos bem distribuídos em 1,83 m de altura), o ator não vê motivo para parar de saltar de prédios, dirigir em alta velocidade ou pular de helicópteros. “Não sei o que é envelhecer. Ainda faço as mesmas coisas e até uso as mesmas roupas’’, diz o protagonista de “Duro de Matar: Um Bom Dia para Morrer’’, em cartaz a partir do dia 22. O filme marca os 25 anos da franquia que lançou Willis ao estrelato e reprisa mais uma vez o papel do policial nova-iorquino de sorriso sarcástico e vocação para viver perigosamente. A série de ação arrecadou, com quatro títulos, mais de US$ 1 bilhão de bilheteria mundial, o que ajudou o astro a acumular uma fortuna estimada em mais de US$ 40 milhões. Em sua quinta aventura nas telas, John McClane viaja à Rússia para libertar Jack (Jai Courtney), seu filho mais velho, da cadeia. Juntos, eles enfrentam terroristas russos e provocam perseguição automobilística com uma das maiores destruições de carros já vistas no cinema. “Acho que batemos algum recorde nesse setor’’, diz o ator, que não acredita que filmes possam influenciar as pessoas a ser mais violentas. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
"Se alguém saiu de uma sala de cinema e matou outra pessoa,
isso aconteceu porque o sujeito já era insano o bastante”
“É preciso muito tempo para um ator se tornar
tão mítico quanto Arnold Schwarzenegger.
Ele até foi governador da Califórnia"
O sr. sente uma responsabilidade pelo uso indiscriminado de armas em filmes, justamente num momento em que se discute seu controle nos EUA?
Não. Sabemos que filmes não levam necessariamente uma pessoa a cometer um crime. Se alguém saiu de uma sala de cinema e matou outra pessoa, isso provavelmente aconteceu porque o sujeito já era insano o bastante para fazer isso.
É a favor do controle de armas?
Os EUA deveriam controlar os seus loucos.
No início do filme, Barack Obama é visto, sinalizando que os tempos são outros. No primeiro “Duro de Matar’’, em 1988, o presidente era Ronald Reagan. Isso provocou alguma mudança significativa na história?
Não acho que o personagem tenha prestado muita atenção. Na verdade, muita gente não liga para política. Elas andam cansadas de política.
É também o seu caso?
Sim. Não tenho paciência.
Comemorar os 25 anos da franquia “Duro de Matar” leva naturalmente a um balanço da carreira. Como vê a sua trajetória como astro de de ação?
Penso nisso todos os dias. Até hoje não consigo explicar como isso se deu comigo. Nunca pensei em me tornar um ator de Hollywood. Depois de uma série de bicos (inclusive trabalhando como investigador particular), comecei a estudar arte dramática. Era algo que eu tinha gostado de fazer na escola. Participei de peças em Nova Jersey e depois em Nova York, em produções off-off Broadway. Aí surgiram convites para tevê e cinema e, de um dia para o outro, mudei para a Califórnia e a loucura começou.
Acha que foi sorte?
Como tudo aconteceu por acaso, o que mais poderia ser? Sou um cara sortudo. Adoro o que faço, o que me permite sempre fazer coisas novas. Se cometo erros ao atuar em algum filme que não dá certo comercialmente, posso voltar.
Como se sente ao final de um dia de filmagem, depois de muita ação e pancadaria?
Fazer filmes de ação é coisa de homem. Meu maior desafio é nunca reclamar. A cada queda, eu sempre me levanto e digo: “Estou bem.” Tenho essa mania de competir comigo mesmo. Uma explicação para o fato de eu continuar em Hollywood até hoje talvez seja por eu fazer filmes que entretêm a plateia. É disso que o público gosta.
O enredo desse seu novo filme passa a ideia de que seu personagem, John McClane, está se aposentando. Sente isso também?
A história pode dar essa impressão. Mas estou apenas mais velho. É só isso.
Ainda não é o momento de passar o bastão a outro ator, como acontece com os astros que interpretam James Bond, por exemplo?
Não, ainda não.
Não chegou fisicamente ao seu limite, depois de tantos filmes de ação?
Menos do que eu pensava. O filme de ação ainda me instiga, me faz lembrar de quando eu era criança. É como brincar de soldado ou de luta livre (risos). Em algum momento, você provavelmente me ouviu dizer que eu não sabia se daria conta do recado, se poderia correr tão rápido, lutar tão intensamente ou me levantar do chão com facilidade. Na hora de fazer, no entanto, sempre me saio bem. O máximo que acontece durante as filmagens é me demorar um pouco mais para me levantar depois de uma queda. Só em alguns momentos.
Como mantém a forma?
É a mesma história. Faço exercícios e vou à academia. Nada muito louco. Depois desse filme, fiz uma pausa de seis meses para descansar, o que não parece ter sido uma boa ideia (risos).
Fez algum treinamento especial antes de começar a filmar?
Não. Só precisei carregar na musculação. Não só para parecer um cara mais forte, mas para não quebrar os meus ossos nas quedas (risos). São seus músculos que supostamente o amortecem ao cair. Além disso, usei enchimentos para saltar de um prédio, enfrentar uma batida de carros, pular de um helicóptero ou fazer outra loucura qualquer.
Quando se projetou nesse gênero de filmes, sentia uma competição com Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone, para ver quem era o mais durão dos três?
Não éramos necessariamente concorrentes. Sempre fomos bons amigos, mesmo naquela época. Cada um de nós tinha uma forma diferente de dar corpo a esse tipo de herói. O fato de nós três ainda sermos capazes de atuar nesse tipo de filme é simplesmente inacreditável.
Atribui isso à inexistência de uma nova geração expressiva de atores?
Há novos astros. Jason Statham (da franquia “Carga Explosiva”) é um deles.
Ele não é um ícone, como vocês foram, concorda?
É preciso ver como Jason Statham se sai nos próximos anos. Ele é muito bom. Daniel Craig é outro tipo valentão que me agrada. Reinventou 007, a ponto de me fazer assistir aos filmes de James Bond novamente. Obviamente, é preciso muito tempo para um ator se tornar tão mítico quanto Arnold Schwarzenegger, por exemplo. Ele até foi governador da Califórnia, a coisa mais incrível que eu já vi acontecer com uma estrela.
Nunca considerou uma carreira política?
Já, por cerca de dois minutos. Eu aprontei muito na minha juventude, isso não me permitiria ingressar na política (risos).
Nesse novo filme, seu personagem é superprotetor dos filhos. O sr. também é assim na vida real?
Sim, completamente. Quando se tem quatro filhas como eu, a pessoa acha que nunca as protege o suficiente. (Willis é pai de Rumer, 24 anos, Scout LaRue, 21, e Tallulah Belle, 19, da união com Demi Moore, além de Mabel Ray, 1 ano e 10 meses, do casamento atual, com a modelo e atriz Emma Heming.)
Seria diferente se tivesse tido um filho homem, como é o caso do seu personagem?
Bem, só consigo imaginar. Acho que os meninos, quando atingem certa idade, não querem ser tão protegidos. Já as meninas, não. Elas gostam mais de atenção. É “papai para cá’’, “papai para lá’’, eu adoro isso.
No filme, o sr. diz: “Ah, as coisas que temos que fazer pelos nossos filhos.” Sente o mesmo?
Sim. Qualquer pai dedicado dirá o mesmo. Embora eu não precise dirigir em alta velocidade para salvar as minhas filhas, há sempre muito o que fazer. Estou aprendendo a lidar com filhas jovens, em seus 20 anos, ao mesmo tempo que tento arrancar uma risada da minha caçula, que é ainda bebê.
É muito diferente ser pai mais velho?
Não muito.
Mas é melhor?
Muito melhor. Hoje eu presto mais atenção nas coisas. Pelo menos espero que sim.
O sr. consegue equilibrar o trabalho e a dedicação à família?
Sim, sempre busquei isso. Fiz coisas que não vi outros atores da minha época fazendo pelas suas crianças, como pedir duas semanas de folga nas filmagens para passar mais tempo com a minha família. A equipe precisava filmar cenas em que eu não aparecia nesse intervalo, mas, na época, eu tinha como pedir isso, por mais que fosse incomum. Agora, mais velho, eu escolho realmente trabalhar menos para ver mais as minhas filhas.
Tendo em vista o novo cenário da política externa americana, como vê a maneira que a CIA é representada atualmente no cinema?
Ainda que filmes tenham uma ligação com a realidade, eles são feitos para entreter o público e também fazer dinheiro – exceto o documentário. Será que o espectador gostaria mesmo de ver a verdadeira história da CIA nas telas? Acho que não.
Os policiais acham que o sr. transmite uma imagem positiva da profissão?
Não sei. John McClane faz um monte de coisas que são contra a lei. Ele é uma espécie de fora da lei (risos).
Por ser conhecido e querido por eles, consegue se safar de uma multa de trânsito, por exemplo?
Nunca dirigi em Nova York. Mas se eu dirigisse por lá, como fiz no filme, seria uma coisa muito boa, não é? (risos).
Nos filmes anteriores, o personagem fumava bastante. Por que parou? É um sinal dos novos tempos?
É. Quando a franquia surgiu, em 1988, quanto mais fumaça aparecesse na tela, melhor. As pessoas não estava nem aí. Agora sabemos que o cigarro mata e ninguém quer morrer. Além do fato de Hollywood não querer dar mau exemplo, eu tive um problema com o tabagismo. Como não fumo mais, consequentemente o personagem faz o mesmo.