Era uma vez uma linda princesa que podia escolher qualquer belo príncipe para se casar, mas optou por viver feliz ao lado de seus animais de estimação. O foco dessa mocinha não era o casamento. Esse conto, chamado “A Princesa Sabichona”, da inglesa Babette Cole, é um exemplo do que tem sido chamado, nos Estados Unidos e na Europa, de “literatura infantil feminista”. Trata-se de uma vertente de livros que embaralha os tradicionais papéis de meninos e meninas nas histórias para crianças e atinge dois objetivos de uma vez: agrada mais à garotada de hoje e liquida com a cultura patriarcal que reserva às meninas o papel de passivas e aos meninos o peso de matar o dragão ao final, sempre. Neste filão literário, os gêneros são equivalentes, como defende o movimento feminista, e o casamento como um ideal das mulheres é uma das ideias mais combatidas.

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No Brasil, há poucos desses títulos à venda. “Esse poder das personagens femininas ainda é incipiente no País”, explica a psicóloga Jane Felipe, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “A maioria dos livros infantis ainda reforça uma feminilidade ligada ao cuidado com a beleza, ao ambiente doméstico, à fragilidade.” Mas no cotidiano, as coisas estão mudando. E quem tem filhos pequenos já percebeu.

IDEIAS ANTIGAS
A maioria dos livros ainda reforça a feminilidade
ligada à beleza e à fragilidade

Apontada como uma das principais incentivadoras dessa diferenciação entre meninas e meninos, a Disney resolveu mostrar que também está antenada com os novos tempos e criou a categoria “mulheres em papéis positivos” na Hyperion Books for Children, um selo de sua divisão de livros. O best seller nos EUA “Grace for President” (Grace para Presidente), de Kelly DiPucchio e LeUyen Pham, é um dos títulos. Se homens podem ser presidentes, mulheres também pelo menos de classe, como quer a personagem principal. “Livros como o meu mostram que houve progresso, mas há muito a fazer”, disse Kelly à ISTOÉ. “Não acho que 30 anos atrás meninas se perguntavam sobre mulheres na presidência. Mas o fato de ainda se perguntarem mostra que há barreiras culturais e políticas a serem superadas.” Kelly ressalta que a geração passada não leu histórias sobre meninas piratas, vampiras, astronautas ou sobre mães que trabalham, em vez de cuidarem da casa e dos filhos. Já as personagens de hoje até dirigem tratores, como no livro para colorir “Girls Are Not Chicks” (Meninas Não São Menininhas), de Jacinta Bunnell e Julie Novak. Jacinta teve a ideia de escrever para crianças quando era babá e se via recontando histórias que considerava sexistas. “Espero que as pessoas sejam mais críticas em relação aos produtos para as crianças e à maneira como eles introduzem (pre)conceitos cuja influência nem percebemos”, disse Jacinta.

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