Se você costuma tomar qualquer remédio para acabar com a dor de cabeça, cuidado. A automedicação, como se sabe, é uma atitude perigosa. Analgésicos e antiinflamatórios, como toda droga, podem implicar riscos à saúde. Na semana passada, uma pesquisa da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, confirmou que a ameaça é real. O estudo revelou que o uso frequente de dois tipos desses gêneros de medicamentos estão associados ao aumento de pressão arterial.

O trabalho acompanhou 80.020 mulheres. No início, elas não apresentavam hipertensão. E foram questionadas a respeito do uso de analgésicos, conferindo a frequência e o tipo de droga mais adotado. Dois anos mais tarde, os médicos constataram que 1.650 participantes estavam com pressão alta. Entre as que consumiram paracetamol – princípio ativo de alguns analgésicos – durante mais de 22 dias num mês, a manifestação do problema foi duas vezes maior do que no grupo que não ingeriu a substância. Os especialistas notaram ainda que as usuárias de antiinflamatórios da classe não-esteróide – como o ibuprofeno – tiveram esse risco aumentado em 86% em comparação às mulheres que não tomaram o comprimido.

Infelizmente, a causa do aumento de risco não foi estudada. No entanto, os especialistas afirmam que a conclusão serve de alerta e deve estimular a produção de outros trabalhos para entender o fenômeno. Há pistas para isso. Segundo Antônio Carlos Lopes, professor da Universidade Federal de São Paulo, já se sabia que os antiinflamatórios, por exemplo, podem comprometer a função renal. “Se o rim não está funcionando
bem, ele bloqueia a produção do hormônio prostaglandina. Em baixa quantidade, ela estreita os vasos e isso aumenta a pressão arterial”, explica. Lopes afirma que o remédio é contra-indicado para diabéticos, idosos, pacientes com problemas cardíacos ou hepáticos e para pessoas com alguma deficiência renal.

Já Anthony Wong, coordenador do Centro de Assistência Toxicológica, em São Paulo, lamenta que não tenha sido avaliado o uso concomitante de antiinflamatórios e paracetamol. “Quanto mais frequente essa combinação, mais o rim sofre agressões”, diz. De qualquer modo, isso não quer dizer que a saída é optar pelo ácido acetilsalicílico. Em excesso, a substância pode causar gastrite e hemorragia gástrica.

Ela também pode contribuir para desencadear uma doença rara, a síndrome de Reye. O mal acomete geralmente crianças e impede a metabolização de toxinas, entre elas, a amônia. O acúmulo do composto provoca edema cerebral, podendo evoluir para a morte em mais de 70% dos casos. A enfermidade se manifesta se houver um tripé composto pela propensão genética, uma infecção viral e o consumo de ácido acetilsalicílico. Por isso, o melhor a fazer é sempre procurar um médico.