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DESBRAVADOR
O Polar Pod está em fase de produção e
deve ser lançado ao mar em outubro de 2013

A Antártida sempre atraiu aventureiros ávidos por desvendar seu ambiente inóspito, paisagens deslumbrantes e rica fauna. Muitos exploradores já passaram pelo continente gelado. Um deles foi o brasileiro Amyr Klink, primeiro homem a dar a volta ao mundo pelo Polo Sul, em 1998, sozinho a bordo de seu veleiro Paratii. Agora, um aventureiro francês de 67 anos pretende deixar também a sua marca por lá. O explorador Jean-Louis Etienne está construindo uma torre flutuante equipada com cabine. A embarcação recebeu o nome de Polar Pod, e foi projetada para navegar ao redor do Polo Sul.

Além do giro, o objetivo é estudar a fauna, a absorção de CO² pelo oceano e a corrente marítima na região. “É a primeira vez que uma embarcação vai passar um ano inteiro fazendo esse trajeto, poderemos observar o ambiente durante todas as estações”, afirma Etienne. Normalmente, os barcos fazem a viagem no verão, para evitar os temíveis ventos do inverno. “É um projeto ‘meio maluco’, mas muito interessante do ponto de vista científico”, diz o glaciólogo Jefferson Simões, professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ele coordena projetos do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) e já participou de 19 expedições polares.

Uma das tarefas mais importantes de Etienne será observar a corrente circumpolar antártica, a maior do planeta. Ela isola a Antártida, deixando o continente mais frio e preservando o manto de gelo. Além disso, transporta águas geladas para outras partes do mundo, o que é essencial para o equilíbrio térmico. “Se ela não existisse, a diferença de temperatura entre os trópicos e os polos seria muito maior”, diz Simões. Essa é a única corrente que dá a volta no globo terrestre. Suas águas geladas absorvem bilhões de toneladas de CO² da atmosfera, por isso a expedição também vai estudar o processo de acidificação dos oceanos.

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O projeto, que deve custar cerca de 10 milhões de euros, está em fase de desenvolvimento. A construção e testes com a embarcação serão realizados ainda neste ano. Em 2014, as partes da torre e da cabine serão enviadas para Durban, na África do Sul, onde serão remontadas. A previsão é de que o Polar Pod seja lançado nas águas da Corrente das Agulhas, na costa sudoeste da África, em outubro de 2013.

Se as condições oceânicas não estiverem favoráveis para a embarcação sair flutuando desde a Corrente das Agulhas, o Polar Pod será rebocado por um navio até a corrente circumpolar antártica. Nesse caso, os tanques da torre serão preenchidos por ar-comprimido, para que ela flutue horizontalmente. Para colocá-la na posição vertical, os tanques são esvaziados e preenchidos novamente com água do mar, afundando a torre. A embarcação viajará com a força da corrente, empurrada por hélices e equipada com velas que ajudam a direcionar a trajetória. O Polar Pod também conta com um gerador de energia por ondas e turbinas eólicas. Em último caso, um motor movido a diesel, ou à gasolina, poderá ser acionado. Tirando essa exceção, o flutuador não emitirá gases poluentes. 

Além do explorador, irão compor a equipe três marinheiros e quatro engenheiros. Todos, inclusive Etienne, serão resgatados por navios ou veleiros algumas vezes ao longo do projeto para descansos em terra firme. Os aventureiros enfrentarão isolamento, ventos de 37 a 46 km/h e ondas que podem chegar a até 20 metros. Isso não assusta Etienne. “Nós temos o exemplo do Flip, embarcação vertical da marinha americana para pesquisas oceanográficas. Ele foi construído há 60 anos e ainda está em operação”, diz. Além disso, afirma o explorador, viajar no Polar Pod é mais confortável do que em navios convencionais, já que ele balança menos.

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Etienne é médico especializado em nutrição, biologia do esporte e na fisiologia da adaptação humana a condições extremas. Em 1986, ele tornou-se a primeira pessoa a alcançar o Polo Norte sozinho, depois de viajar por 63 dias a bordo de um trenó. Já explorou o vulcão Erebus, na Antártida, e em 2010 realizou a primeira travessia do Oceano Ártico a bordo de um balão. E, se tudo der certo, daqui a dois anos terá a chance de escrever seu nome na história dos maiores exploradores que já passaram ao redor do Polo Sul.