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CONTROVERSO
Benjamin Abrahão em 1923, já morador da casa do
"Padim" (abaixo): elegância bancada com dinheiro dos fiéis

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Dono de uma trajetória curta, mas cheia de lances inacreditáveis, o imigrante sírio Benjamin Abrahão, que desembarcou no Recife na primeira década do século passado e morreu em 1938, aos 37 anos, acaba de ganhar uma biografia que faz jus ao seu espírito aventureiro, corajoso e controverso. O livro chama-se “Benjamin Abrahão – entre Anjos e Cangaceiros” (Escrituras), foi escrito pelo historiador e especialista em cangaço Frederico Pernambucano de Mello, e mostra como Abrahão acompanhou as demonstrações de fé e religiosidade que moviam os devotos do padre Cícero, no Ceará, e a violência e o banditismo praticados pelo grupo de Lampião. Dá o devido status a esse personagem que viveu na intimidade dois movimentos populares mais importantes do País.

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NO SERTÃO
O fotógrafo com Maria Bonita e Lampião, em 1936:
documentário proibido pelo Estado Novo

Entre os muitos documentos investigados por Mello estão as cadernetas pessoais do retratado, escritas em português e em árabe. Elas foram traduzidas durante três anos com a ajuda de dois professores de árabe e revelam a astúcia de Abrahão. Enquanto amenidades eram anotadas em português, as informações importantes eram escritas em árabe, como registros dos embates com a Coluna Prestes – Lampião havia oferecido seus serviços ao governo para ajudar a combater o avanço comunista no Nordeste. Acostumado ao clima de conflitos, Abrahão chegou ao Brasil fugido do alistamento militar obrigatório na Síria durante a Primeira Guerra Mundial. Trazia no bolso uma duvidosa carteira de jornalista. Chegando, trabalhou com os tios como representante comercial e, numa viagem ao sertão, conheceu o padre Cícero. Contou ao religioso que havia nascido em Belém e, portanto, era “conterrâneo de Jesus”. Impressionado, o padre o nomeou secretário particular.

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INÉDITO
Livro revela o conteúdo da caderneta de campo
de Abrahão e traz entrevista com Luiz Carlos Prestes

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Abrahão aproveitou a fé que movia as pessoas até o santuário e resolveu fazer dinheiro. Quando padre Cícero morreu, passou a vender mechas do cabelo do religioso. A farsa foi logo descoberta, já que o homem santo não tinha tanto cabelo. Sua aproximação de Lampião se deu em 1936, ao encontrá-lo em Juazeiro. De olho no furo, ele tentou registrar as ações do bando. Conseguiu uma câmera e fez um documentário nunca exibido porque foi proibido pelo Estado Novo. O cangaceiro tornou público seu apreço por Abrahão ao reconhecer a qualidade do filme, declarando que jamais consentiria que outra pessoa fizesse tal registro de suas atividades. O que permanece sem explicação na vida desse misto de curioso e oportunista é a sua morte. Ele foi vítima de 42 punhaladas, não se sabe se motivadas por vingança amorosa ou política.

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Fotos: Divulgação


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