A aquisição dos substitutos dos obsoletos caças Mirage-III da Aeronáutica envolve um longo processo burocrático. Um oficial do Alto-Comando chegou a dizer que “é obra que exige paciência e envolve 21 itens da burocracia brasileira”. A escolha dos aviões ficou para este mês, em reunião do Conselho de Defesa. Mas o contrato – US$ 788 milhões para a aquisição de 12 aviões – só será assinado no futuro governo Luiz Inácio Lula da Silva. A responsabilidade será, então, dividida entre Fernando Henrique Cardoso e seu sucessor. Por esta razão, o próprio Lula, ou um representante do presidente eleito, poderá participar da reunião do Conselho de Defesa que vai definir o avião a ser negociado, porque, afinal, caberá a ele consumar o último ato da licitação realizada pela Aeronáutica.

Lula – e também Serra, Ciro e Garotinho – deixou claro na campanha eleitoral que preferia que o caça Mirage 2000-5Br fosse o escolhido “porque vai gerar empregos para operários e engenheiros brasileiros”. O avião é oferecido pelo consórcio liderado pela Embraer e a francesa Dassault. Pelo mesmo motivo de Lula, o ex-ministro da Aeronáutica, brigadeiro Mauro Gandra, que iniciou os estudos para a substituição dos Mirage-III, também prefere o avião. Ele reconhece o alto desempenho do russo Sukhoi Su-35, que também participa da licitação, mas faz ressalva quanto à “problemática logística da aeronave”. O problema é citado também pelo ministro do Superior Tribunal Militar, brigadeiro Cherubim Rosa Filho, ao elogiar o Sukhoi. Eles não citam o JAS-39 Gripen, sueco, que tem importantes componentes americanos. O Gripen e o F-16 têm o respaldo do lobby americano.

Na quinta-feira 31, o Conselho de Defesa aprovou os projetos de dois aviões do Programa de Fortalecimento do Controle do Espaço Aéreo brasileiro. O CLX – uma aeronave de transporte de carga que será usada em missões de busca e salvamento na Amazônia e em operações de pára-quedistas – será fornecido pela empresa espanhola Casa, que estava concorrendo com a americana Lockheed. A aquisição do sistema eletrônico do avião P-3, adquirido através de negociação com a Marinha dos Estados Unidos e a Lockheed, também foi autorizada. Ambas as negociações não serão realizadas de acordo com critérios de licitação, por envolverem itens considerados reservados.

Quanto ao avião Kfir, que a empresa israelense IAI pretende alugar à Aeronáutica até 2006, ainda causa polêmica entre oficiais. O brigadeiro Mauro Gandra afirma que “o melhor seria esquecer o Kfir, que já causou desgaste”. A aeronave foi cogitada para um período de transição entre a aposentadoria dos velhos Mirage III até a entrega dos novos caças. Enquanto um piloto de defesa aérea defende o aluguel do Kfir, um ex-piloto de F-5 da Base Aérea de Santa Cruz, que já voou nesse avião em Israel, afirma que “o melhor seria analisar outras alternativas, e não só o avião israelense”.