O italiano Luigi Pirandello é um destes autores cuja biografia humilha o comum dos mortais. Depois de escrever sua primeira obra de ficção aos 12 anos, dedicou boa parte da vida a criar nos principais gêneros da literatura. Do ensaio ao romance, passando pelos contos e pelas novelas, até chegar ao teatro, no qual tornou-se mundialmente conhecido com sua companhia Teatro d’Arte. Agora, o leitor brasileiro recebe um dos mais
importantes trabalhos do autor:Dona Mimma – novelas para um ano (Berlendis & Vertecchia, 174 págs., R$ 26), em que aparecem nitidamente as ricas nuanças de toda sua obra, acondicionadas nos pequenos mas densos frascos de 13 histórias reunidas.

Dona Mimma é um dos 24 tomos nos quais se dividiram a coletânea de novelas produzidas por Pirandello. A coleção, iniciada em 1922, se dependesse dele teria sido publicada em um ou, no máximo, dois volumes. O previsível tamanho da obra, que reuniria algo próximo de 360 novelas, levou seus editores a dissuadi-lo da empreitada. Nasciam, assim, os 15 volumes que ele publicaria em vida e mais dois póstumos, que não refletem uma ordem cronológica severa, mas um arranjo cuidadosamente feito pelo próprio Pirandello em conjunto com seus editores.

Ao entrar em contato com Dona Mimma, o leitor pouco íntimo ou total desconhecedor da obra de Pirandello vai ver de perto alguns dos cenários mais queridos ao autor – as pequenas cidades da Itália, a Sicília em especial – e personagens de emoção à flor da pele, como a própria Dona Mimma, parteira destronada de um pequeno vilarejo pela chegada de uma obstetra formada, ou o casal de velhos que guarda no vôo de um alegre pintassilgo a memória da netinha falecida. São peças delicadas e emocionantes, de um concerto perfeito, que, ao final da última linha, deixa na boca e na memória o travo agridoce da melancolia da terra humilde.
 


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias