William Faulkner – um dos mais representativos escritores dos difíceis anos da economia americana da primeira quadra do século XX – não fugiu à regra que manda todo autor que se preza começar sua vida publicando crônicas e contos em jornais e revistas de pequena circulação. O livro Esquetes de Nova Orleans (José Olympio Editora, 238 págs., R$ 27), que só agora chega ao mercado nacional, reúne 16 contos e alguns esquetes publicados por Faulkner, aos 27 anos, no jornal local Times-Picayune. Era o ano de 1925, a grande crise do final da década ainda não havia explodido, e o autor estreava na prosa, depois de dedicar seus primeiros anos de literatura à poesia.

Lendo os textos, em especial os minúsculos esquetes, nota-se sua transição da poesia para a prosa. Mas percebe-se, ainda mais nítido, o nascimento de uma série de personagens que, anos mais tarde, irão povoar as narrativas cada vez mais densas da grande obra de Faulkner. Nesses esquetes, verdadeiros esboços de perfis e circunstâncias, começa a se delinear o rico universo que o leitor identificará imediatamente com seus romances Luz de agosto e O som e a fúria.

A leitura de Esquetes de Nova Orleans tem gosto semelhante ao de se percorrer uma exposição de esboços feitos por um pintor para sua grande obra-prima. Ou assistir ao making of de uma cena inesquecível. E, mesmo assim, não é algo dedicado apenas aos iniciados na obra de Faulkner. O exercício de criação emergido das pequenas histórias e situações é, em si, um tesouro que, se de um lado ajuda a compreender a evolução do talento do autor, de outro mostra um cotidiano efervescente na Nova Orleans da época, um tempo de romantismo crioulo e de consolidação das influências negras na cultura americana.