ONDE ESTÁ OSAMA? Parte da família em visita à Suécia (1971). Osama seria o segundo,
da direita para esquerda, afirmam os suecos. O livro diz que ele não está na foto

Cego de um olho e maltrapilho, Mohamed Bin Laden deixou o Iêmen e chegou à cidade portuária de Jedá, no sul da Arábia Saudita, no início do século passado, seguindo os peregrinos que emigravam pelo deserto. Começou a nova vida trabalhando como pedreiro, abriu o seu próprio negócio e em cinco décadas, sempre à frente de sua empreiteira, construiu um patrimônio bilionário como prestador de serviços oficial ao reino da Arábia Saudita – e também como parceiro fiel nos empreendimentos americanos no país do petróleo. Ao morrer num acidente de avião bimotor, em 1967, Mohamed já se tornara um dos homens mais ricos e poderosos do mundo. Deixou muitas obras e muitos filhos, muitos mesmo, 54 gerados por sete esposas. Entre eles está um herdeiro que, ao contrário do pai que entrou para a história por construir um império, ganhou notoriedade mundial justamente por fazer o contrário – ou seja, pelo que conseguiu destruir.

Osama Bin Laden, o homem que planejou os ataques às torres gêmeas de Nova York em 11 de setembro de 2001, matando cerca de três mil pessoas, é hoje o terrorista mais procurado em todo o mundo. A sua história e a de sua família estão no recém-lançado livro Os Bin Ladens: uma família árabe no século da América (Globo, 680 págs., R$ 45), do escritor americano Steve Coll, ganhador de dois prêmios Pulitzer. Ele fez mais de 150 entrevistas e pesquisou documentos em uma dezena de países para reunir informações sobre a trajetória e a fortuna da família Bin Laden. Dessas entrevistas, extraiu também histórias peculiares e divertidas. Fica-se sabendo, por exemplo, que o adolescente Osama ganhou o apelido de “o pacificador de conflitos” de um amigo e parceiro no futebol. Isso porque Osama, que jogava na defesa, censurou o amigo numa partida por ele ter derrubado um adversário que tentara agredi-lo. Um comportado Osama explicou que não era preciso violência para resolver os problemas.

Por detestar brigas em futebol, Osama Bin Laden foi apelidado na juventude de “pacificador de conflitos”

Numa outra passagem, para mostrar como Osama criava os seus filhos segundo parâmetros bastante estóicos, o livro revela que as crianças não podiam usar nenhum tipo de canudo ou bocal infantil, pois tais utensílios não existiam nos tempos do profeta Maomé. Papai Osama também proibia fotografias porque “estão infestadas de imagens blasfemas”. O autor Coll destaca ainda a sua dedicação no combate aos soviéticos quando eles invadiram o Afeganistão e enfatiza que o governo de Ronald Reagan sabia de suas atividades no país muçulmano.

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Embora as ações terroristas de Osama estejam isoladas de sua família (não há nenhuma evidência de que algum outro familiar esteja envolvido em tais atos), para se compreender as suas reais motivações é preciso conhecer a história do clã que se tornou um dos mais poderosos do mundo do século XX. Para sustentar essa tese, Coll mostra que a família Bin Laden manteve estreitas relações políticas e econômicas com o reino da Arábia Saudita e com os EUA. A empresa Saudi Bin Laden Group, da qual Osama era acionista, assinou em 1990 contratos com o Exército americano para a construção de instalações que dessem apoio à presença das tropas americanas na futura guerra contra o Iraque. O empenho em colaborar foi agradecido pelo alto comando militar dos EUA, na voz do general William Pagonis: “Estamos orgulhosos de suas façanhas e nos sentimos humildes ante os seus sacrifícios. Saudamo-los e os agradecemos”.

Ao ampliar o enfoque para a trajetória familiar dos Bin Ladens, o livro revela intrigas, disputas de poder e negócios não muito ortodoxos que explicam a formação de um império. Ao longo dos anos, a família saudita diversificou as atividades, investindo em tecnologia, em telecomunicações e na indústria cultural. Na década de 80, era dona de shopping centers, de condomínios, imóveis de luxo, prisões privatizadas, ações de grandes empresas e até de um aeroporto – tudo isso nos EUA. E ainda financiava filmes de Hollywood e fechava grandes negócios com Donald Trump. “A família Bin Laden era dona de uma impressionante porção dos EUA à qual Osama declarou guerra”, escreve Coll.

 

PATRIARCA
Nos anos 60, Mohamed, que era cego de um olho, visita obra de sua construtora no deserto saudita

FOTOS: REPRODUÇÃO

LUXO
Salem, filho mais velho e meio-irmão de Osama, esquia nos EUA. Ele colecionava aviões, iates e automóveis

TERROR
Avesso a fotografias, essa é uma das raras imagens de Osama no Afeganistão (sem data)


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