Os heróis da conquista rubro-negra do hexacampeonato brasileiro de futebol, todos, sem exceção, eram homens. A partir de 2010, no entanto, a história dos títulos do Flamengo será diferente. O time, que conta com a maior torcida do Brasil, elegeu presidente a vereadora Patrícia Amorim (PSDB-RJ), a primeira mulher a ocupar o cargo num dos maiores clubes de futebol do País. Ex-nadadora, Patrícia sabe o que é competir. Mãe de quatro meninos, aprendeu a se fazer respeitar por homens. Aos 40 anos, é madura, bonita e bem resolvida. Enfrentou com batom e determinação o forte preconceito de gênero, além da desconfiança de que privilegiaria os esportes olímpicos em detrimento do futebol. Afinal, sua experiência vem das piscinas como atleta do Flamengo, conquistou 28 títulos brasileiros (leia quadro). Acabou vencendo uma eleição de clube que invadiu as ruas do Rio de Janeiro e ganhou ares de disputa de campeonato. E foi na água que ela comemorou, na semana passada, o novo título de presidente. Patrícia mergulhou de roupa na piscina olímpica, após o anúncio da eleição. “Minha resposta às críticas cruéis que recebi foi a vitória”, desabafa. Alma lavada.

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FEITO A ex-nadadora venceu outros cinco candidatos numa disputa acirrada

Antes de Patrícia, poucas mulheres romperam a hegemonia masculina dos cartolas na direção dos clubes. À frente do Corinthians, Marlene Matheus ocupou o posto apenas porque seu marido, Vicente Matheus, não podia mais se reeleger na presidência. Já a nova presidente do universo vermelho e preto conquistou seu espaço enfrentando cinco adversários, sendo um deles o atual vice-presidente, Delair Dumbrosck. Mas a vencedora não terá só as glórias do hexacampeão para usufruir: vai herdar, também, uma dívida de R$ 333 milhões hoje maior do que a receita do clube, que em 2010 deve chegar a R$ 148 milhões. “Temos de estancar essa ferida e dar transparência às ações”, defende. “O Flamengo sempre foi conservador, elitista e comandado pelos mesmos grupos. Estava na hora de mudar.” Para muitos torcedores, Patrícia desperta esperança de boa administração. “Espero que ela traga união ao clube. Mas o mais importante é ter uma pessoa idônea à frente do Flamengo”, afirma Cláudio Cruz, um dos fundadores da torcida organizada Raça Rubro-Negra.

Na presidência do Vasco, o deputado estadual Roberto Dinamite (PMDB-RJ) defende que a melhor receita para superar os problemas é se cercar de gente competente. “Este é um grupo difícil de entrar, em que as pessoas permanecem por 15 ou 20 anos”, reconhece. “Espero que sua presença anime mais mulheres.” Patrícia tem planos de modernizar as instalações e regularizar as finanças do clube nos três anos de gestão que tem pela frente. Para isso, confia em qualidades como sensibilidade, paciência e a personalidade conciliadora para reinar num universo totalmente masculino.

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