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MUDANÇA EM MARCHA
Considerado apático por eleitores, François Hollande parte para a ação

Até o início deste ano, o telejornal satírico “Les Guignols de L’Info” (“Os fantoches da informação”), muito popular na França, retratava o presidente do país, François Hollande, empossado em maio de 2012, como um homem sem pulso firme, acostumado a sair pela tangente em questões embaraçosas. O apelido de “pudim”, cunhado pelo programa de tevê, ganhou as ruas e até o seu próprio partido passou a tecer críticas ao seu estilo excessivamente low profile. Mas, a julgar pelas suas últimas atitudes, pelo menos de indolente Hollande não poderá ser mais tachado. Na semana passada, o presidente da França foi à guerra. Literalmente. Com o objetivo de conter o avanço de radicais islâmicos, ligados à Al-Qaeda, Hollande deflagrou uma ação militar no norte do Mali, ex-colônia francesa. Os grupos haviam tomado progressivamente aquela região desde o fim de 2011, impondo a sharia – a lei islâmica – à população local. As tropas francesas iniciaram os ataques na sexta-feira 11 com bombardeios aéreos, mas isso não impediu que os rebeldes conseguissem mais território ao se misturarem à população. Assim, ao longo da semana, ocorreram combates diretos por terra. Cerca de 2,5 mil soldados foram deslocados para a missão, que segundo o ministro da Defesa francês, Jean-Yves Le Drian, deve ser longa. Comunicada aos franceses em cadeia nacional de tevê, a decisão de intervir no Mali surpreendeu pela rapidez com que foi tomada e pelos riscos que assume – uma ousadia para os padrões presidenciais – com a ameaça de represálias, como o sequestro de dezenas de estrangeiros num campo de exploração de gás na Algéria, na quarta-feira 16. “Além disso, sempre há o perigo de se parecer com um poder ‘pós-colonial’”, disse à ISTOÉ Bruno Cautrès, analista do Centro de Pesquisas Políticas da Sciences Po.

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Em sua inesperada empreitada, o francês recebeu apoio discreto de países europeus (nem a Alemanha nem o Reino Unido mandaram tropas) e dos Estados Unidos, que, segundo o jornal “Los Angeles Times”, consideraram sua própria intervenção há seis meses. Na avaliação de Hollande, porém, não havia outra opção ante um exército malês insuficiente e uma coalizão de forças da África Ocidental desarticulada. “(Sem a ação) o Mali teria sido totalmente conquistado e os terroristas estariam hoje numa posição de força”, declarou Hollande. O chefe de Estado francês também gosta de enfatizar que a intervenção só ocorreu depois que o Mali pediu ajuda. A justificativa é endereçada ao público interno. Durante a campanha presidencial, Hollande decretou o fim da era da “Françafrique” (relação de influência com as antigas colônias no continente africano).

Embora o planejamento da intervenção militar tenha passado ao largo desse objetivo, a operaçåo pode aumentar a popularidade de Hollande, ao menos no curto prazo. O episódio militar, de acordo com o instituto BVA, tem o apoio de 75% da população. Em queda contínua desde sua chegada ao Palácio do Eliseu (quando estava em 61%), a aprovação ao presidente chegou a 46% em janeiro, segundo o instituto Ifop.

 

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Mas, no âmbito interno, uma iniciativa de Hollande capaz de arranhar sua imagem perante a população francesa é seu projeto para legalizar o casamento gay e permitir a adoção de crianças por casais do mesmo sexo. No domingo 13, 340 mil franceses foram às ruas de Paris para protestar contra a proposta. Na semana anterior, Hollande já havia desafiado as celebridades da França. Entre elas, o ator Gérard Depardieu. Indignado com o aumento de impostos para os milionários, proposta questionada pelo Tribunal Constitucional, Depardieu abdicou de sua cidadania francesa. Em nenhum dos casos, porém, o socialista recuou no que eram promessas de campanha. “Hollande se tornou cada vez menos popular, porque as pessoas não viam liderança nele”, afirmou Olivier de France, do European Council on Foreign Relations. “Agora, ninguém mais questiona sua autoridade. Hollande realmente passou a agir como um presidente”, disse.

Fotos: BERTRAND LANGLOIS, ERIC FEFERBERG e STRINGER/AFP PHOTO


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