O lançamento do nome da senadora Marina Silva (AC) à Presidência da República em agosto prometia provocar uma reviravolta na sucessão presidencial. Uma terceira via parecia empolgar parte do eleitorado cansado da polarização PT-PSDB, que domina a cena política desde 1994. Era o fim da eleição plebiscitária, vaticinaram analistas. Mas a euforia ficou restrita à largada. Além de não corresponder à grande expectativa criada, a candidatura, em vez de decolar, desidratou nos últimos três meses. Na pesquisa CNT/Sensus, divulgada no fim de novembro, Marina Silva (PV) aparece em último lugar, com apenas 5,9%. Na última pesquisa do Ibope ela aparece como a candidata com a segunda maior rejeição: 40%. “Marina perdeu fôlego rápido demais. Nem sequer repôs a intenção de voto de Heloísa Helena, candidata em 2006 pelo PSOL”, constatou o ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia, que há 20 anos analisa pesquisas eleitorais.

Marina ficou à margem até do tema que lhe é mais caro. Nas discussões sobre qual proposta o Brasil deveria levar para a COP15, a cúpula sobre mudanças climáticas promovida pela Organização das Nações Unidas em Copenhague, na Dinamarca, pouco se ouviu a voz de Marina. Nem mesmo na primeira semana de discussões, que teve início na segunda-feira 7, a pré-candidata do PV deu as caras para falar sobre o assunto. Marina foi para a Dinamarca na sexta-feira 11, mas já chega atrasada pelo fato de ainda não ter manifestado, ao menos em alto e bom som, sua posição sobre as propostas do País e os rumos que as discussões têm tomado em nível global.

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TRAVA Marina, de acordo com o Ibope, é a candidata com o segundo maior índice de rejeição no País: 40%

Ouvidos por ISTOÉ, integrantes do PV admitem: faltam estrutura e dinheiro e, até agora, pouco foi discutido sobre estratégia de campanha. O diagnóstico foi feito há três semanas durante um jantar do partido. “Sabemos que não temos condição de competir com as mesmas armas de PT e PSDB”, admitiu o vice-presidente da legenda, Alfredo Sirkis, deixando claro que o sumiço de Marina preocupa.

“Agora que estamos decidindo quem vai fazer o quê. Agora que vamos, de fato, estruturar a campanha”, reconheceu o deputado Fernando Gabeira (RJ), um dos principais expoentes do partido. Desde agosto, por exemplo, o PV só conseguiu organizar dois eventos de peso para a candidata: o lançamento oficial da candidatura propriamente dita e a marcha da Lagoa, no Rio de Janeiro. Sem o suporte do partido, Marina tem feito, em média, apenas uma viagem por semana porque o dinheiro é escasso. “Temos que nos estruturar, buscar meios para superar os bloqueios de um partido que não tem máquina, mas sem contrariar a legislação”, disse Marina à ISTOÉ.

Para driblar os problemas, o PV decidiu adotar medidas que começaram a ser colocadas em prática em novembro. O partido inaugurou no mês passado um portal na internet pelo qual simpatizantes poderão contribuir financeiramente para a campanha. O site também será usado para difundir a imagem da candidata. “Temos que superar a falta de estrutura e dinheiro com inteligência e criatividade”, diz Sirkis. Jantares para apresentar a candidata, como o oferecido pela socialite Ana Paula Junqueira há cerca de 15 dias, serão mais frequentes. Na área política, o PV se organiza para que Marina tenha pelo menos um palanque em cada Estado. O partido também conversa com o PSOL, de olho numa aliança com a legenda presidida pela ex-senadora Heloísa Helena. “Alguns pontos já estão sendo parte do diálogo para 2010”, disse Heloísa.

O maior desafio da candidatura Marina, porém, será mostrar ao eleitor que ela tem condições, de fato, de governar o País. E que não é somente uma figura respeitada e excêntrica que lançou sua candidatura apenas para inserir o tema do desenvolvimento sustentável na pauta eleitoral. Graças à paralisia do partido, as propostas da candidata para o País nem sequer foram postas no papel. Ninguém tem ideia, por exemplo, de quem pode ser o homem de Marina no Banco Central, caso ela vença as eleições. “Para ocuparmos espaço, precisamos pensar num projeto para o Brasil. Isso ainda não há”, admitiu Sérgio Xavier, secretário nacional de Assuntos do Executivo do PV.

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