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Atletas profissionais e amadores podem experimentar momentos de euforia e até ondas de êxtase durante ou depois da prática do esporte. A explicação mais conhecida e aceita para essas explosões de prazer estimuladas pelo esforço físico é o aumento da produção de endorfina – um grupo de substâncias fabricadas pelo organismo com efeitos analgésicos e entorpecentes comparáveis aos da morfina. Elas atuam em áreas do cérebro associadas à sensação de prazer. Essa tese, embora não seja nova, acaba de ser confirmada por cientistas da Universidade de Bonn e da Technische Universität München, na Alemanha. Eles comprovaram que os picos de endorfina no cérebro são verdadeiros e provocam alterações notáveis no humor e na percepção corporal dos esportistas.

Suas conclusões estão baseadas em testes feitos com a mais alta tecnologia em imagens que registraram as diferenças no funcionamento cerebral de dez atletas antes e depois de corridas de longa distância, com duração de mais de duas horas. O trabalho está publicado na revista Cerebral Cortex. Até então, já se sabia que a quantidade da substância ficava elevada na circulação sangüínea durante a prática esportiva, mas não se sabia o que acontecia nas áreas do sistema nervoso central relacionadas ao prazer.

Porém, alcançar o barato do corredor depende da aceitação de alguns requisitos. Um deles é o tempo. “O corpo aumenta a produção de endorfina depois de 30 minutos de atividade física”, explica Turíbio Barros, professor de fisiologia da Universidade Federal de São Paulo. Além disso, só dá certo se a pessoa gostar do que está fazendo. A endorfina só aparece se a atividade for confortável. Não há liberação quando o exercício provoca dor ou sofrimento. Ou seja, é necessário correr no ritmo certo, respeitar os limites do corpo e desligar- se dos problemas do dia-a-dia. “O indivíduo precisa estar com os sentidos abertos para captar os estímulos da atividade e do ambiente”, aconselha Barros.

Os resultados do estudo foram comemorados. “Essa confirmação abre novos campos de pesquisa”, diz Barros. Um deles já está sendo explorado pelo grupo que fez o achado, na Alemanha. “Estamos estudando como a corrida pode ajudar a tratar dores crônicas, pois vimos a liberação de endorfinas em centros ligados à supressão da dor”, disse Thomas Tölle, um dos autores do estudo. Outra investigação em andamento avalia os níveis de endorfina e sua relação com a dependência de álcool, chocolate, cigarros ou drogas, entre outros. Níveis naturalmente mais altos no cérebro estariam associados à menor vulnerabilidade ao consumo compulsivo de substâncias que dão prazer.