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A primeira década do século XX viu nascer uma nova geração de pintores, avassalada pela confluência de novas linguagens e a influência de novas tecnologias. Brasileiros ou estrangeiros, em sua maioria jovens, bebem na influência do realismo de expoentes alemães como Gerhard Richter e Sigmar Polke, fazendo um entrelaçamento entre o figurativismo pop, a desfaçatez surrealista e um certo expressionismo midiático guiado pelo cânone fotográfico.

Na mostra “Mutatis Mutantis”, na galeria Moura Marsiaj, em São Paulo, é possível perceber essa verve por meio do trabalho de cinco pintores brasileiros e da espanhola Irene Grau, que, segundo o curador responsável pela seleção, Marcelo Campus, trazem “imagens elaboradas a partir da observação de momentos e situações de transmutação”. Tal transmutação se dá, por exemplo, pela instabilidade de estados pictóricos – aquilo que seria próprio da pintura – e de imagens técnicas, como a fotografia ou a imagem digital. O trabalho de Irene Grau, por exemplo, pode ser lido como uma espécie de abstracionismo high tech. Na obra “RGB”, por meio da projeção de acrílicos coloridos transparentes na parede, a artista transforma a luz em pintura imaterial, com cores feitas apenas em seu estado luminoso. Essa passagem, sempre intermediária entre diferentes manifestações dessa “pintura transmutável”, também se faz presente na série de telas “Damaged Files” (foto). Em inglês, o termo da informática, que significa arquivo danificado, foi traduzido por Irene em pintura ao transformar imagens digitais corrompidas e pixeladas em pinceladas geométricas que também têm como ênfase a cor.

Em outro extremo, não menos instável, está a pintura figurativista do maranhense Thiago Martins de Melo. Revelação da última edição do Rumos Itaú Cultural e duas vezes indicado ao Prêmio Pipa, em 2011 e 2012, o pintor, que possui formação em psicologia, impulsiona sua obra com imagens alegóricas da cultura popular brasileira. Em suma, mostra o lugar contemporâneo da pintura, hoje muito mais transitório do que perene, como um dia ela foi.